Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA): O que é, e como funciona

O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) tem se destacado no mercado de renda fixa, atraindo investidores interessados em diversificar suas aplicações. Com o crescimento do setor agropecuário e a busca por novas formas de financiamento, esse ativo se tornou uma alternativa importante para produtores e cooperativas.

Segundo dados da B3, no terceiro trimestre de 2022, o volume de CRAs aumentou 57% em relação ao mesmo período de 2021, atingindo R$ 95,6 bilhões em estoque.

Esse crescimento reflete a necessidade do setor em antecipar recebíveis e transformar direitos creditórios em títulos financeiros negociáveis no mercado de capitais. A securitização desses recebíveis permite que produtores obtenham capital para investir em suas atividades sem depender exclusivamente de bancos ou instituições tradicionais. Como resultado, tanto o agronegócio quanto os investidores se beneficiam de uma estrutura financeira eficiente e diversificada.

A seguir, exploraremos o conceito do CRA, como ele funciona, os tipos existentes, os benefícios e os riscos desse investimento. Compreender esses aspectos é essencial para avaliar se esse título de renda fixa se encaixa em diferentes perfis de investimento.

O que é o CRA?

O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é um título de renda fixa lastreado em direitos creditórios originados do setor agropecuário. Sua principal função é captar recursos no mercado de capitais para financiar operações de produtores rurais e suas cooperativas. Esses ativos são emitidos por companhias securitizadoras, que convertem créditos futuros, como notas promissórias, Cédula de Produtor Rural (CPR) e duplicatas, em títulos negociáveis.

A regulamentação do CRA é feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), conforme a Resolução CVM 60, que estabelece que esses certificados devem estar vinculados a operações do agronegócio, incluindo:

🔹 Produção, comercialização, beneficiamento e industrialização de produtos agropecuários.

🔹 Compra de insumos agropecuários.

🔹 Aquisição de máquinas e implementos utilizados na atividade agropecuária.

Dessa forma, o CRA se consolida como um mecanismo de financiamento estratégico para o agronegócio, permitindo maior flexibilidade no uso dos recursos captados.

Como funciona o CRA?

O funcionamento do Certificado de Recebíveis do Agronegócio envolve diversas etapas e participantes. O processo se inicia quando um produtor rural ou cooperativa decide antecipar seus recebíveis, cedendo esses direitos a uma companhia securitizadora, que então emite os CRAs no mercado financeiro.

Os investidores compram esses títulos e, em troca, recebem pagamentos de juros até o vencimento.

Principais participantes no processo:

  1. Devedor e credor – geram os recebíveis da operação.
  2. Companhia securitizadora – emite os CRAs no mercado.
  3. Distribuidores (bancos ou corretoras) – responsáveis pela venda dos títulos.
  4. Investidores – compram os CRAs e recebem rendimentos.
  5. Agente fiduciário – protege os interesses dos investidores.

Os rendimentos dos CRAs variam conforme a estrutura da operação. Esses títulos podem ser negociados no mercado secundário, permitindo a liquidez antes do vencimento, embora sua negociação possa ser limitada dependendo da demanda no mercado.

Tipos de CRA

Os CRAs podem ser classificados de acordo com a composição da carteira de crédito e o tipo de rentabilidade oferecida aos investidores.

Quanto à composição da carteira:

  • CRA diversificado – possui diferentes originadores de recebíveis, reduzindo o risco da operação.
  • CRA corporativo – está atrelado a apenas um originador, tornando o risco mais concentrado.

Quanto ao tipo de rentabilidade:

  • Prefixado – oferece uma taxa fixa de rendimento, garantindo previsibilidade. Exemplo: 10% ao ano.
  • Pós-fixado – rendimento atrelado a um índice, como CDI ou Selic.
  • Híbrido – combina um índice de inflação (IPCA) ou taxa de juros (CDI) com um percentual fixo. Exemplo: IPCA + 6,85% ao ano.

A escolha do tipo de CRA depende do perfil do investidor e de sua tolerância ao risco, sendo os prefixados mais estáveis e os pós-fixados mais sensíveis às variações do mercado.

Tipos de estrutura e custos dos CRAs

Os CRAs podem ser estruturados de diferentes maneiras, dependendo do perfil dos contratos e da natureza da operação. As duas principais modalidades são:

  • Pulverizado: envolve múltiplos devedores, geralmente produtores rurais ou cooperativas, vinculados a contratos de fornecimento de insumos, serviços ou comercialização agrícola.
  • Corporativo: tem uma empresa como principal devedora, sendo utilizado para financiar operações comerciais, manutenção de equipamentos ou expansão da produção.

Os custos de emissão do CRA variam conforme o indexador adotado e as condições de mercado. As principais referências para a remuneração dos investidores incluem:

  • % do CDI: indicado em períodos de queda na taxa de juros.
  • CDI + spread: modelo flexível, ajustado às condições do mercado financeiro.
  • Índices de preços (IGPM, IPCA): preferíveis para operações de longo prazo, protegendo contra oscilações inflacionárias.
  • Taxa pré-fixada: recomendada quando há risco de alta dos juros, garantindo previsibilidade de custos.

Quem pode emitir um CRA?

Os CRAs são emitidos exclusivamente por companhias securitizadoras, que são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedades anônimas (S/A). Essas empresas são regulamentadas pela CVM e têm a função de converter recebíveis do agronegócio em títulos negociáveis no mercado de capitais.

As emissões podem ser realizadas por meio de duas modalidades de oferta pública:

🔹 Oferta restrita (476) – destinada a investidores profissionais.

🔹Oferta ampla (400) – acessível ao público geral.

Isso permite que tanto grandes investidores quanto pessoas físicas tenham acesso a esse tipo de investimento, ampliando a captação de recursos para o agronegócio.

Benefícios do CRA

Os CRAs oferecem vantagens tanto para produtores rurais e cooperativas quanto para investidores.

Para produtores rurais e cooperativas:

✔ Acesso a capital de forma rápida e eficiente.

✔ Diversificação das fontes de financiamento.

✔ Maior previsibilidade financeira.

Para investidores:

✔ Isenção de Imposto de Renda (IR) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas.

✔ Rentabilidade atrativa em comparação com outros ativos de renda fixa.

✔ Alternativa de diversificação de portfólio.

Riscos do CRA

Embora ofereça bons retornos, o CRA apresenta riscos que devem ser considerados pelos investidores.

Risco de crédito – se os devedores não honrarem os pagamentos, os investidores podem sofrer perdas.

Risco de liquidez – o mercado secundário pode ter baixa demanda, dificultando a venda antes do vencimento.

Risco de mercado – variações econômicas podem impactar a rentabilidade dos títulos.

Ausência de FGC – o CRA não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), tornando essencial a análise do risco da securitizadora e dos ativos lastreados.

Por esses motivos, o CRA é indicado para investidores com perfil moderado a arrojado, que tenham um horizonte de investimento de médio a longo prazo.

Diferença entre CRI e CRA

Para compreender melhor as distinções entre CRI e CRA, veja a comparação abaixo:

Característica
CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários)
CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio)
Setor
Imobiliário
Agronegócio
Origem dos recebíveis
Financiamentos e operações imobiliárias
Financiamentos e operações ligadas ao agronegócio
Isenção de IR para pessoa física
✅ Sim
✅ Sim
Regulamentação
Resolução CVM nº 60/2021
Resolução CVM nº 60/2021
Emissor
Securitizadoras
Securitizadoras
Risco
Associado ao setor imobiliário
Associado ao setor agrícola
Rentabilidade
Atrelada a IPCA, CDI ou prefixada
Atrelada a IPCA, CDI ou prefixada

A principal diferença entre esses ativos está na origem dos recebíveis, o que pode influenciar nos riscos e na volatilidade do investimento.

O mercado imobiliário está sujeito a crises econômicas e mudanças regulatórias, enquanto o agronegócio depende de fatores como clima, demanda internacional e políticas agrícolas.

Investir em CRA vale a pena?

O investimento em CRA pode ser uma boa opção, mas depende de fatores como rentabilidade, risco e liquidez. Como se trata de um título securitizado, ele pode apresentar menor liquidez em comparação a investimentos como CDBs ou Tesouro Direto, dificultando o resgate antes do vencimento.

Além disso, o risco de crédito deve ser avaliado, pois não há garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Vantagens do CRA:

  • Isenção de Imposto de Renda para pessoa física.
  • Rentabilidade atrativa, geralmente atrelada ao IPCA ou CDI.
  • Alternativa de diversificação na renda fixa.

Desvantagens do CRA:

  • Risco de crédito (depende da qualidade dos recebíveis).
  • Baixa liquidez (dificuldade em vender antes do vencimento).
  • Volatilidade do setor agrícola, influenciada por fatores externos.

Antes de investir, é essencial verificar se o CRA se encaixa no seu perfil de investidor e nos seus objetivos financeiros. Se você busca rendimentos isentos de IR e aceita o risco de crédito, pode ser uma alternativa interessante. Caso contrário, outros investimentos podem ser mais adequados.

Conclusão

O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) se tornou uma solução essencial para o financiamento do setor agropecuário, oferecendo liquidez para produtores e uma alternativa interessante para investidores. Sua estrutura permite a captação de recursos sem necessidade de intermediação bancária, promovendo maior eficiência no mercado de capitais.

Com diferentes modalidades de rentabilidade e benefícios fiscais, o CRA pode ser uma opção atrativa dentro da renda fixa. No entanto, é fundamental analisar seus riscos, como a inadimplência dos devedores e a liquidez no mercado secundário. Assim, o investidor pode tomar decisões mais seguras e alinhadas ao seu perfil de risco.

Perguntas Frequentes

Quem pode emitir um CRA?

Um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é um título de crédito emitido por securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio. Essas securitizadoras são empresas especializadas em transformar ativos financeiros, como recebíveis do agronegócio, em títulos negociáveis no mercado financeiro. Em suma, apenas securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio estão autorizadas a emitir CRA.

O que é CRA agro?

O CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) é um título emitido por instituições securitizadoras para financiar o setor agropecuário.

Qual é a diferença entre LCA e CRA?

Apesar de existirem algumas semelhanças, já que ambos estão associados ao setor de agronegócio e são isentos de IR, os títulos possuem diferenças importantes. O CRA é um título privado, emitido por empresas do setor, enquanto o LCA é emitido por bancos e conta com a garantia do FGC.

O que é certificado de recebíveis?

O Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) é um título privado que confere ao investidor um direito de crédito. Isso significa que ele terá direito a uma remuneração, geralmente na forma de juros, além de receber de volta o valor investido no vencimento do título.

Como declarar certificado de recebíveis do agronegócio?

Na ficha “Rendimentos Isentos e Não Tributáveis”, selecione a opção “12 – Rendimentos de cadernetas de poupança, letras hipotecárias, letras de crédito do agronegócio e imobiliário (LCA e LCI) e certificados de recebíveis do agronegócio e imobiliários (CRA e CRI)”, informando os valores recebidos ao longo do ano.

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