Poluição plástica ameaça a reprodução e recuperação dos corais
Pesquisas revelam que produtos químicos de plásticos afetam a reprodução e a sobrevivência dos corais, ameaçando a recuperação dos recifes marinhos.

Novas pesquisas estão revelando um impacto alarmante da poluição por plásticos sobre os recifes de corais, ecossistemas fundamentais para a vida marinha. Estudos conduzidos pela Universidade do Havaí em Mānoa mostram que os produtos químicos liberados por plásticos interferem diretamente em processos vitais dos corais, como a reprodução e a fixação das larvas, dificultando a regeneração desses organismos após eventos de branqueamento em massa.
A bióloga marinha Keiko Wilkins, autora do estudo, constatou que substâncias químicas que se desprendem dos plásticos no oceano reduzem significativamente as taxas de fertilização e a capacidade das larvas de coral se fixarem no fundo do mar — um passo essencial para a renovação das colônias. Esses efeitos, segundo Wilkins, são “impactos ocultos” que muitas vezes passam despercebidos quando se fala sobre ameaças aos recifes.
Os experimentos foram realizados no Laboratório Marinho de Kewalo, onde amostras foram expostas a lixiviados de plásticos comuns, como nylon, polipropileno e polietileno. Os resultados mostraram que os efeitos variam de acordo com o tipo de polímero e sua concentração, mas em todos os casos houve redução na sobrevivência e no desenvolvimento das larvas.
Wilkins destacou que o problema vai muito além dos resíduos físicos que se acumulam nos oceanos. “Os corais não apenas ingerem microplásticos, como também sofrem com as substâncias químicas que eles liberam na água”, explicou. Seu trabalho reforça a necessidade de repensar o impacto dos plásticos e produtos químicos nos mares, considerando-os como um fator de estresse ambiental de alta complexidade.
As evidências se somam a estudos recentes realizados em diferentes partes do mundo. Pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Cochin, por exemplo, identificaram uma contaminação severa por microplásticos nos recifes de Lakshadweep, com até 97 partículas por quilograma nos sedimentos. Situação semelhante foi observada nas Ilhas Andaman e Nicobar e no Golfo da Tailândia, onde o lixo plástico já afeta a biodiversidade marinha local.
Para o professor Bob Richmond, diretor do Kewalo Marine Laboratory, as descobertas são “essenciais para o futuro da conservação marinha”. Ele lembra que, embora ocupem apenas 0,1% da superfície da Terra, os recifes de coral sustentam 25% de todas as espécies marinhas. Estima-se que metade deles tenha desaparecido desde 1950, tornando urgente o combate à poluição plástica e química nos oceanos.
Atualmente, Wilkins continua suas pesquisas analisando os níveis de ingestão de microplásticos em corais do Pacífico, buscando entender os efeitos a longo prazo sobre a resiliência desses ecossistemas vitais.