Solo congelado do Ártico descongela e preocupa cientistas do clima
O degelo do permafrost no Ártico pode liberar gases poderosos, intensificando o aquecimento global e aumentando os riscos climáticos.

O degelo do permafrost no Ártico voltou a chamar atenção de cientistas em outubro de 2025, devido aos impactos diretos que pode ter sobre o clima global. O descongelamento acelerado do solo congelado representa uma ameaça crescente, já que a liberação de gases de efeito estufa, como o metano e o dióxido de carbono, pode intensificar o aquecimento da Terra e tornar regiões inteiras inabitáveis.
O meteorologista Carlos Nobre, em entrevista ao programa “Roda Viva”, alertou que, caso a temperatura média global ultrapasse 2°C até o final do século, mais de 200 bilhões de toneladas de gases podem ser liberadas do permafrost. “Se passarmos de 1,5°C, vamos perder 70% da Amazônia e descongelar o permafrost, liberando gás metano 30 vezes mais potente que o CO₂”, afirmou Nobre, reforçando a gravidade da situação.
Pesquisas recentes revelaram que microorganismos com mais de 40 mil anos estão despertando do permafrost, começando a produzir dióxido de carbono. Um estudo da Universidade do Colorado Boulder aponta que esses microrganismos se alimentam da matéria orgânica presente no solo congelado, transformando-a em CO₂ e metano. “É uma das maiores incógnitas nas respostas climáticas”, explica Sebastian Kopf, professor de ciências geológicas da instituição.
Estima-se que o permafrost armazene atualmente duas vezes mais carbono do que a atmosfera terrestre, o que torna qualquer liberação em grande escala um fator crítico para o aquecimento global.
Além disso, os lagos árticos também desempenham papel importante na emissão de gases. Pesquisas publicadas na revista Nature Geoscience revelaram que o permafrost sob lagos como o Goldstream, no Alasca, já descongelou em profundidades superiores a 20 metros. Esses lagos termocásticos, formados quando o permafrost descongela e a depressão se enche de água, continuam liberando metano e CO₂ por séculos ou milênios, com impacto climático ainda maior do que as emissões superficiais.
Para aprofundar o estudo desse fenômeno, a comunidade científica internacional lançou o projeto PeTCaT (Rapid Permafrost Thaw Carbon Trajectories), liderado pelo Instituto Alfred Wegener. O objetivo é entender como o degelo súbito do permafrost afeta a atmosfera e desenvolver modelos mais precisos sobre os processos de congelamento e descongelamento do solo. Com 30 a 40% do permafrost ártico já emitindo gases e 2025 se projetando como um dos anos mais quentes da história, especialistas alertam para o impacto direto dessas mudanças no clima global, às vésperas da COP30 em Belém.
O alerta da comunidade científica é claro: sem medidas urgentes de contenção do aquecimento, o degelo do permafrost poderá acelerar a crise climática, tornando o planeta cada vez mais vulnerável.