O mundo caminha para um calor insuportável, alertam pesquisadores

Estudo mostra que o mundo poderá enfrentar 57 dias a mais de calor extremo até 2100, ampliando desigualdades e ameaçando países mais vulneráveis.

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Um novo estudo publicado nesta quinta-feira trouxe uma previsão preocupante sobre o futuro do clima global. Caso os países mantenham as promessas atuais de redução de emissões estabelecidas no Acordo de Paris, o mundo extremamente quente enfrentará, em média, 57 dias adicionais de calor extremo por ano até 2100. Isso representa quase dois meses a mais de temperaturas elevadas, com impactos mais severos em pequenas nações insulares, que historicamente contribuíram muito pouco para o aquecimento global.

A análise foi conduzida por especialistas da Climate Central e da World Weather Attribution, em comemoração aos dez anos do acordo climático. Os pesquisadores compararam dois cenários: um com a implementação do Acordo de Paris e outro sem ele. Segundo o estudo, se o tratado não tivesse sido firmado em 2015, a Terra enfrentaria 114 dias adicionais de calor extremo a cada ano até o fim do século — o dobro do cenário atual. Desde a assinatura do acordo, o planeta já vivencia, em média, 11 dias a mais de calor intenso por ano.

O relatório também chama atenção para as desigualdades climáticas. Os países que menos emitem gases de efeito estufa estão entre os que mais sofrerão com o aumento das temperaturas. Panamá, Ilhas Salomão e Samoa, por exemplo, estão entre as nações que poderão registrar o maior número de dias extremos. O Panamá, sozinho, pode enfrentar 149 dias superquentes a mais por ano. Em contraste, os Estados Unidos, China e Índia, maiores emissores de carbono, deverão enfrentar de 23 a 30 dias extras, mesmo sendo responsáveis por 42% das emissões globais.

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O pesquisador Andrew Weaver, da Universidade de Victoria, reforçou que o estudo comprova uma realidade já conhecida: “Os países em desenvolvimento, que menos contribuíram para o problema, serão os que mais sofrerão com o calor extremo.”

Mesmo com os avanços do Acordo de Paris, o progresso ainda é considerado insuficiente. O tratado reduziu a projeção de aquecimento global de 4°C para 2,6°C acima dos níveis pré-industriais, mas isso ainda está longe de ser seguro. A pesquisa define como “dias superquentes” aqueles que superam as temperaturas registradas em 90% dos dias entre 1991 e 2020.

A cientista Kristina Dahl, da Climate Central, alertou que “ainda estamos caminhando para um futuro perigosamente quente”, destacando que muitos países não estão preparados nem para os níveis atuais de aquecimento, estimados em 1,3°C. Já a coautora Friederike Otto, do Imperial College London, lembrou que o aumento do calor extremo afetará milhões de pessoas, agravando as crises de saúde e mortalidade associadas às ondas de calor que já ocorrem com frequência.

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