Anticorpo raro mostra poder surpreendente contra o HIV em estudo alemão

Pesquisadores do Hospital Universitário de Colônia, na Alemanha, trouxeram novas esperanças na luta contra o HIV ao identificar um anticorpo natural capaz de neutralizar quase todas as variantes conhecidas do vírus. A descoberta, publicada após extensos testes laboratoriais, pode abrir caminho para uma nova forma de prevenção e tratamento da infecção que, desde os anos 1980, já ceifou mais de 44 milhões de vidas no mundo.

O grupo, liderado pelo virologista Florian Klein, analisou amostras de sangue de 32 pessoas portadoras do HIV que, de forma incomum, desenvolveram respostas imunológicas altamente eficazes sem ajuda de medicamentos. A equipe testou mais de 800 tipos de anticorpos dessas amostras até encontrar o 04_A06, uma proteína com capacidade excepcional de impedir que o vírus se ligue às células humanas. Nos testes com camundongos infectados, o anticorpo bloqueou 98% das variantes do HIV estudadas — um resultado considerado notável, já que o vírus apresenta grande diversidade genética e costuma escapar facilmente das defesas do corpo.

Klein explicou que o anticorpo atua ao se conectar à proteína do envelope do vírus, impedindo que ele invada as células e se replique. Além disso, o 04_A06 ajuda o sistema imunológico a reconhecer e eliminar com mais eficiência os vírus bloqueados. Essa ação dupla poderia tanto proteger pessoas ainda não infectadas quanto reforçar o tratamento de quem já convive com o HIV.

Apesar dos resultados animadores, os especialistas ressaltam que o caminho até que o 04_A06 se transforme em medicamento é longo. Estudos clínicos precisarão comprovar sua segurança, tolerância e eficácia em humanos. Ainda assim, o avanço é visto como um passo importante rumo a novas estratégias contra o vírus, especialmente em um cenário em que a busca por uma vacina permanece desafiadora.

Atualmente, existem opções preventivas eficazes, como comprimidos diários e injeções semestrais de medicamentos como o cabotegravir e o lenacapavir. Porém, o uso de anticorpos como o 04_A06 poderia oferecer uma alternativa mais prática, com aplicações menos frequentes e alta taxa de proteção.

Alexandra Trkola, da Universidade de Zurique, destacou que o anticorpo descoberto é um dos mais potentes já registrados. Mesmo assim, ela reforça que será preciso paciência até confirmar sua eficácia em larga escala. O estudo reacende a esperança de que a ciência esteja cada vez mais próxima de controlar de forma definitiva um dos vírus mais persistentes e devastadores da história.