Bússola neural de morcegos mantém direção mesmo em noites sem lua
Morcegos usam bússola cerebral para se orientar com precisão, mesmo sem lua, estrelas ou sinais magnéticos, revelando sistema de navegação estável.

Pesquisadores descobriram que a capacidade de orientação dos morcegos é mais avançada do que se imaginava. Um estudo recente realizado em uma ilha isolada no Oceano Índico mostrou que esses mamíferos possuem uma bússola neural global, capaz de manter a direção com precisão, mesmo quando não há referência visual da lua ou das estrelas.
Para registrar pela primeira vez a atividade cerebral de morcegos em ambiente natural, os cientistas implantaram dispositivos ultraleves que monitoravam neurônios individuais enquanto os animais voavam livremente. Durante os voos noturnos, foi possível observar que grupos específicos de neurônios ligados à orientação espacial se ativavam consistentemente quando os morcegos apontavam a cabeça para direções fixas, como norte ou sul. Isso indica a existência de um sistema interno de navegação extremamente estável, que não depende exclusivamente de sinais celestes ou magnéticos.
Os pesquisadores observaram que, nos primeiros voos, a atividade neural mostrava alguma instabilidade, sugerindo que os morcegos aprendem gradualmente o ambiente antes de estabilizar seu sistema de navegação. Com o tempo, eles parecem integrar elementos do próprio terreno, como rochas, relevos e outros marcos geográficos, combinando essas informações para manter a orientação correta. A descoberta reforça a ideia de que a aprendizagem espacial e a percepção do ambiente são fundamentais para a navegação desses animais.
O estudo também trouxe novas perspectivas para a compreensão de sistemas de orientação em outros mamíferos, incluindo os humanos. As chamadas células de direção da cabeça, observadas nos morcegos, estão relacionadas ao desenvolvimento cerebral básico e podem ser estudadas para entender melhor distúrbios de desorientação espacial e doenças neurológicas como o Alzheimer.
Ao contrário de sistemas que dependem apenas de sinais externos, a bússola cerebral dos morcegos permanece constante, mesmo ao se deslocarem entre diferentes regiões da ilha ou em noites sem visibilidade do céu. Esse mecanismo indica a presença de um referencial global interno, capaz de garantir que os animais se orientem com segurança e eficiência, independentemente das condições externas.
A pesquisa, inédita no monitoramento de animais livres em seu habitat natural, abre caminhos para novas descobertas sobre navegação, memória espacial e percepção ambiental em mamíferos. Além de revelar o sofisticado sistema dos morcegos, os resultados podem inspirar novas tecnologias de navegação e estudos sobre como o cérebro processa informações espaciais complexas.