Monitoramento total nas escolas gera polêmica

Debate sobre câmeras nas escolas do DF coloca educação e vigilância em confronto, levantando dúvidas sobre segurança e confiança.

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No Distrito Federal, a discussão sobre educação e segurança nas escolas voltou a ganhar força após um caso grave envolvendo um professor da rede pública, acusado de abuso sexual contra uma criança de quatro anos. A gravidade do episódio gerou medidas imediatas: o professor foi afastado, e a direção da escola passou por processo administrativo.

No entanto, o debate se intensificou com a proposta de instalação obrigatória de câmeras de monitoramento em todas as salas de aula, sem consulta prévia aos profissionais de educação.

A iniciativa, prevista no Projeto de Lei 944/2024, busca registrar integralmente áudio e vídeo das atividades escolares. Para seus defensores, a medida representa um avanço na proteção de crianças e adolescentes. Por outro lado, especialistas e educadores alertam que o excesso de controle e vigilância pode criar um ambiente de medo e desconfiança, prejudicando a própria formação civilizatória que a escola deve promover.

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Estudos internacionais mostram que o monitoramento tecnológico não substitui o papel pedagógico e nem impede episódios de violência.

Nos Estados Unidos, por exemplo, quase todas as escolas mantêm sistemas de câmeras e controle de acesso rigoroso, mas ainda assim enfrentam ataques armados recorrentes. Pesquisas recentes indicam que guardas armados e tecnologias de vigilância não reduziram o número de vítimas em massacres escolares. Nos EUA, apenas em 2021, foram gastos mais de 3 bilhões de dólares em sistemas de segurança, sem efeito comprovado na prevenção de tragédias.

Experiências no Brasil também mostram riscos. Um estudo sobre o uso de reconhecimento facial em escolas públicas brasileiras revelou que os projetos foram implementados sem análises de impacto sobre direitos humanos e potencial de discriminação. A tecnologia, muitas vezes apresentada como ferramenta pedagógica, assume na prática um caráter de vigilância, criando desconfiança e ansiedade nos alunos e professores.

Além disso, especialistas apontam que o supercontrole das crianças, como impedir riscos em espaços públicos ou escolares, não gera segurança, mas aumenta a ansiedade. O filósofo e psicólogo Jonathan Haidt, autor de “A geração ansiosa”, destaca que enfrentar desafios faz parte do crescimento, e a falta de autonomia pode prejudicar o desenvolvimento emocional e social dos jovens.

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O Distrito Federal se encontra, portanto, em uma encruzilhada: buscar soluções rápidas e visíveis para a segurança escolar ou investir em medidas que promovam educação, confiança e relações saudáveis dentro da escola. O debate evidencia que soluções simplistas, baseadas apenas na tecnologia, não substituem a importância de ambientes educativos que priorizem o crescimento humano e a formação cidadã.

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