Histórias que desafiam o tabu da eutanásia na América Latina

Histórias reais de latino-americanos que desafiaram o tabu da morte digna e reacenderam o debate sobre o direito de escolher o próprio fim.

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A eutanásia e o suicídio assistido ganham espaço no debate público, impulsionados por histórias de indivíduos que buscam o direito de decidir sobre o próprio fim. Enquanto alguns países avançam na legalização da morte digna, outros enfrentam barreiras legais e culturais que impedem o acesso a esse direito.

Na Suíça, onde o suicídio assistido é legal desde 1942, o poeta brasileiro Antonio Cícero, diagnosticado com Alzheimer, encontrou na Dignitas a possibilidade de uma despedida consciente. Temendo a perda de lucidez, ele optou pelo procedimento, tomando uma substância letal que o induziu ao coma e à morte em poucos minutos, ao lado de seu companheiro.

Na América Latina, a Colômbia lidera o movimento pela morte digna, com a eutanásia legalizada desde 1997 e regulamentada em 2015. O Equador seguiu o exemplo em fevereiro do ano passado, enquanto no Peru, a psicóloga Ana Estrada obteve uma autorização judicial inédita para a eutanásia, abrindo caminho para o debate no país. Mais recentemente, o Uruguai tornou-se o terceiro país latino-americano a permitir a eutanásia.

No Uruguai, Pablo Salgueiro, diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), travou uma batalha para receber assistência para acabar com a própria vida quando a doença se tornou insuportável. Sua filha, Florencia, testemunhou a luta do pai e se tornou uma das fundadoras do grupo Empatía, defendendo o direito do adulto de acabar com seu sofrimento. A lei que permite a eutanásia no Uruguai se aplica a uruguaios e residentes com patologias incuráveis, que podem solicitar o procedimento por escrito e pessoalmente.

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No Equador, o advogado Renato Ortuño, vítima de uma trágica confusão que o deixou tetraplégico, encontrou no direito à morte assistida a possibilidade de encerrar seu sofrimento. Após uma jornada exaustiva em busca de tratamentos que pudessem reverter seu quadro, ele optou pelo procedimento, despedindo-se de seus seguidores nas redes sociais.

Na Colômbia, a professora universitária Tatiana Andia, diagnosticada com um câncer incurável, tornou-se uma defensora do direito à morte digna, documentando sua jornada até a morte. Ela questionava as barreiras institucionais e a cultura médica conservadora que impediam o acesso à eutanásia no país.

Na Espanha, José Antonio Arrabal, diagnosticado com ELA, decidiu tirar a própria vida ao invés de recorrer ao suicídio assistido na Suíça, devido aos altos custos e à burocracia envolvida.

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No México, o doutor Federico Rebolledo, especialista em bioética e cuidados paliativos, dedicou sua vida a estudar a morte e a dor, tornando-se uma das vozes mais intransigentes pelo direito à morte digna no país.

O debate sobre a eutanásia e o suicídio assistido levanta questões éticas e filosóficas complexas, confrontando diferentes visões de direitos humanos. Enquanto alguns defendem a vida a qualquer custo, outros argumentam que a obrigação de viver pode desconsiderar a vontade do indivíduo e violar sua dignidade.

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