Paiter suruí: em rondônia, tradição indígena impulsiona economia sustentável e inovadora

Na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso, a Terra Indígena Sete de Setembro se destaca como um oásis verde em meio ao desmatamento crescente. Habitada pelos Paiter Suruí, “Gente de Verdade” em sua língua nativa, essa área de quase 250 mil hectares abriga cerca de 1.200 pessoas distribuídas em 40 aldeias. A história desse povo, cujo primeiro contato com não indígenas ocorreu em 1969, é marcada pela resiliência e pela reinvenção.
Após a retomada do território, demarcado na década de 1970 e oficializado nos anos 80, os Paiter Suruí não apenas fortaleceram suas tradições, mas também ressignificaram os legados da ocupação. Os cafezais deixados pelos colonos se tornaram a base de uma nova economia, adaptando a lógica de mercado às práticas coletivas e utilizando a floresta como pilar de uma autonomia que se consolida com respeito à natureza e ao empreendedorismo indígena.
O café, antes símbolo da invasão, passou a ser cultivado como ferramenta de sustento, autonomia e reflorestamento. Hoje, os cafezais Paiter Suruí crescem em sistemas agroflorestais, onde diversas espécies dividem o solo em harmonia com os ciclos da terra, evitando o desmatamento. O cultivo acontece com a floresta, não contra ela, refletindo a visão Paiter, onde a natureza é origem, não recurso.
O café produzido, batizado de Café Sarikab, em homenagem ao nome ancestral da fruta que os mais velhos confundiam com o café, possui notas complexas de chocolate e castanhas. Atualmente, cerca de 176 agricultores de 35 aldeias se dedicam ao cultivo, com uma produção estimada de 1.600 sacas por safra. A parceria com a indústria Três Corações garante a demanda, suporte logístico e renda, com a produção destinada a microlotes especiais.
Além do café, o turismo de experiência no Complexo Yabnaby oferece aos visitantes a oportunidade de vivenciar a cultura Paiter Suruí, conhecer os sistemas agroflorestais e desenvolver uma consciência ambiental mais profunda. O turismo é visto como uma estratégia de desenvolvimento territorial que movimenta a economia local, preserva a cultura e estrutura outras iniciativas sustentáveis dentro da terra indígena. Em 2024, o Yabnaby recebeu cerca de 240 turistas.
A juventude Paiter Suruí também se destaca com o coletivo audiovisual Lakapoy, uma produtora criada para registrar o território sob o próprio olhar. O Lakapoy filma para si, para preservar o que é sagrado, ensinar às futuras gerações e garantir que as histórias do povo sejam contadas com respeito e contexto. O coletivo participa de produções em parceria com jornalistas e documentaristas, e também desenvolve projetos próprios, como a exposição “Gente de Verdade”.
Os próximos passos incluem a expansão do cultivo de cacau, com o objetivo de construir uma fábrica de chocolate no território, e o aumento da capacidade de hospedagem do Complexo Yabnaby. Além disso, está em desenvolvimento um novo projeto de carbono, gerido integralmente pelos Suruí, e a continuidade do café como vitrine de uma agricultura sustentável e culturalmente rica.
Fonte: agenciasebrae.com.br