Trégua frágil: Gaza sob ataque e promessas de paz distantes
Em Gaza, a esperança de uma paz duradoura parece cada vez mais distante. Desde a entrada em vigor da trégua, mediada pelos Estados Unidos em 10 de outubro, a violência persiste, com um saldo de quase 100 palestinos mortos e 230 feridos, segundo informações de hospitais locais. Apenas nas últimas 24 horas, 13 corpos e oito feridos foram levados a unidades de saúde na região. A ofensiva militar israelense inclui ataques contra civis desarmados e múltiplos bombardeios ao território.
O descumprimento de acordos de cessar-fogo, segundo analistas, tornou-se uma constante. Recentemente, os militares israelenses alegaram que o Hamas violou o acordo, acusando combatentes do grupo de matar dois soldados em Rafah, o que desencadeou uma nova onda de ataques na Faixa de Gaza. No entanto, as Brigadas Qassam, braço armado do Hamas, negaram qualquer conhecimento de confrontos, argumentando que a área está sob controle israelense.
Um incidente específico em Rafah levanta dúvidas sobre a versão israelense. Segundo o jornalista Younis Tirawi, o evento não foi um ataque do Hamas, mas sim o resultado de um trator operado por uma empresa de colonos que passou por cima de um dispositivo explosivo não detonado. Com as extensivas operações de bombardeio, grande parte do território palestino se transformou em um campo minado, repleto de munições não explodidas, representando um perigo até mesmo para as equipes de demolição israelenses.
O repórter Ryan Grim, do Drop Site News, endossa essa versão, afirmando que a Casa Branca e o Pentágono tinham conhecimento de que o incidente foi causado por uma escavadeira de colonos israelenses acionando munições não detonadas. Após o governo de Israel bloquear a entrada de ajuda em Gaza em resposta ao incidente, a administração americana informou a Israel sobre o que realmente havia acontecido. Netanyahu, então, anunciou a reabertura das passagens algumas horas depois.
Outra justificativa apresentada por Israel para o rompimento do cessar-fogo é a alegação de que o Hamas estaria retardando a entrega dos corpos dos prisioneiros mortos durante os bombardeios. Embora o grupo tenha libertado os 20 prisioneiros vivos e devolvido 12 dos 28 corpos, alega dificuldades em resgatar os demais devido à necessidade de equipamentos pesados para retirá-los dos escombros, situação semelhante à dos corpos de cerca de 10 mil palestinos mortos.
A ajuda humanitária também enfrenta obstáculos. Apenas duas travessias foram abertas, e o Programa Mundial de Alimentos informa que, embora 900 caminhões tenham entrado na região desde 10 de outubro, são necessários 600 caminhões por dia para atender às necessidades básicas da população. A comissária de gestão de crises da União Europeia, Hadja Lahbib, juntou-se aos apelos por um acesso “seguro e desimpedido” à região, mencionando que a Unicef Palestina possui mais de 1.300 caminhões carregados com alimentos, roupas de inverno, kits de higiene e suprimentos educacionais, parcialmente financiados pela União Europeia, prontos para entrar em Gaza.
Apesar do cenário crítico, o governo dos Estados Unidos expressa satisfação com o andamento do cessar-fogo. Steve Witkoff, enviado especial dos EUA, declarou estar orgulhoso com o estágio atual, afirmando que a implementação do acordo está “excedendo onde pensamos que estaríamos neste momento”. O vice-presidente estadunidense, JD Vance, manifestou confiança em alcançar uma paz duradoura, mas alertou que o Hamas será destruído caso não coopere.
Críticos apontam que as declarações das autoridades americanas ignoram as ações do governo israelense que violam o acordo, e questionam a ausência de representantes palestinos nas discussões. Além disso, o ex-presidente Donald Trump reafirmou que o cessar-fogo permanece em vigor e que “vários dos nossos agora grandes aliados no Oriente Médio e em áreas ao redor dele me informaram, de forma explícita e enfática, com grande entusiasmo, que acolheriam com satisfação a oportunidade, a meu pedido, de entrar em Gaza com uma força pesada e ‘endireitar o nosso Hamas’ se o Hamas continuar a agir mal”.