Dinheiro como bem comum: proposta visa dividendo pessoal universal

Uma nova proposta sugere transformar o dinheiro em um bem comum, utilizando a tecnologia blockchain para criar um sistema financeiro mais equitativo. A iniciativa visa implementar um dividendo pessoal universal, pago a cada cidadão, sem a necessidade de aumentar impostos ou contrair dívidas.
A ideia central é criar um “Comum Monetário”, uma plataforma digital pública que aproveitaria a capacidade coletiva de criar dinheiro para financiar esse dividendo. Em vez de deixar esse poder nas mãos de bancos privados, a proposta busca redistribuir os benefícios para todos os membros da sociedade.
O conceito de renda básica universal já existe há algum tempo, mas enfrenta resistência devido a preocupações sobre o aumento de impostos e dívidas públicas. No entanto, esta nova abordagem propõe uma solução inovadora: recuperar o poder de criação de dinheiro dos bancos privados e utilizá-lo para financiar o dividendo.
A proposta detalha o funcionamento técnico através de um aplicativo chamado Monetary Commons Pay (MCPay), fornecido pelo Banco Central. Cada cidadão teria uma conta digital nesse aplicativo, permitindo receber e pagar dinheiro, similar aos aplicativos bancários tradicionais.
O MCPay ofereceria três vantagens principais: transações gratuitas, taxas de juros mais altas sobre as poupanças (equivalentes à taxa do banco central) e o recebimento de um dividendo pessoal substancial.
A chave para o financiamento do dividendo reside na forma como os bancos criam dinheiro através de empréstimos. Quando os cidadãos transferem fundos de seus bancos privados para suas contas MCPay, a capacidade dos bancos de criar novos empréstimos diminui. Para compensar essa redução na oferta de dinheiro, o Banco Central criaria uma quantia equivalente e a distribuiria igualmente entre todas as contas MCPay.
Esse mecanismo garante que o dividendo pessoal seja financiado sem gerar inflação, aumentar impostos ou contrair novas dívidas públicas. O montante exato do dividendo dependeria da quantidade de dinheiro que os cidadãos transferem para o Comum Monetário.
Como exemplo, o Tesouro dos EUA estimou que aproximadamente US$ 6,6 trilhões em depósitos bancários poderiam ser transferidos para stablecoins, as versões privadas do MCPay controladas por grandes empresas de tecnologia e Wall Street. Se essa quantia fosse transferida para um Comum Monetário público, o Fed (Banco Central americano) precisaria creditar US$ 213 trilhões nas contas MCPay de todos os cidadãos, o que equivaleria a mais de US$ 600 mil por pessoa.
A proposta reconhece que a implementação de um Comum Monetário enfrentaria forte oposição, especialmente do setor financeiro. No entanto, argumenta que é uma oportunidade valiosa para promover maior igualdade e justiça social, permitindo que os benefícios da criação de dinheiro sejam compartilhados por todos.
Os defensores da ideia enfatizam que o objetivo não é abolir a seguridade social, mas sim criar um sistema financeiro mais justo e equitativo. Além disso, ressaltam a importância de garantir a privacidade dos usuários do MCPay, utilizando tecnologias de registro distribuído que impeçam o rastreamento de transações individuais.