Alerta verde: o que observar do agronegócio na cop30

Com Belém, no Pará, como palco, a próxima Conferência das Partes (COP30) promete colocar os sistemas alimentares e a agricultura no centro das discussões climáticas globais. O evento, que reunirá representantes de quase todos os países, acontece em um momento crítico, onde as nações ainda lutam para alcançar as metas de redução de emissões necessárias para conter os impactos das mudanças climáticas.
Enquanto alguns defendem que a COP30 seja um marco para a reforma dos sistemas alimentares, que atualmente contribuem com cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, outros preveem uma oposição ferrenha, liderada pelo agronegócio brasileiro.
O setor agropecuário enfrenta pressão crescente para reduzir seu impacto ambiental, notadamente as emissões de óxido nitroso de fertilizantes e o metano liberado pela pecuária. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) enfatiza a necessidade de ações rápidas para reduzir as emissões provenientes da alimentação e do agronegócio, com a indústria da carne sendo um foco particular devido à sua contribuição significativa para as emissões de metano.
Em Belém, o agronegócio deve defender que é, na verdade, a solução para as mudanças climáticas, minimizando seus impactos e promovendo soluções técnicas que nem sempre são eficazes na redução de emissões.
Diante do potencial para greenwashing e desinformação, é essencial estar atento a certos argumentos que podem ser apresentados durante a COP30.
Oito Termos de Atenção na COP30:
1. Agricultura Regenerativa: Sem padrões universais, o termo é frequentemente usado para descrever práticas ecologicamente corretas que aumentam o armazenamento de carbono no solo. No entanto, estudos mostram que o sequestro de carbono no solo compensa apenas uma pequena fração das emissões do agronegócio. A indústria da carne, em particular, promove o pastoreio regenerativo como uma solução, apesar de sua significativa contribuição para as emissões de metano.
2. Agricultura Tropical: Esta versão latino-americana da agricultura regenerativa sugere que solos de regiões quentes e o plantio de árvores podem compensar o metano gerado pela pecuária. No entanto, pesquisas indicam que o solo não consegue compensar o metano da pecuária tropical.
3. Sem Aquecimento Adicional: Esta métrica, também conhecida como GWP (Global Warming Potential star), é utilizada para medir as emissões de metano e pode levar a uma subestimação drástica das emissões de grandes produtores de carne e laticínios, permitindo que reivindiquem “neutralidade climática” sem reduzir a produção.
4. Bioeconomia: Originalmente um termo para produção e consumo em harmonia com a natureza, a “bioeconomia” no Brasil e na Europa é frequentemente usada para dar um toque verde à expansão da agricultura destrutiva, promovendo biocombustíveis controversos que requerem vastas extensões de terra e podem levar ao desmatamento.
5. Nós Alimentamos o Mundo: Este argumento sugere que qualquer tentativa de regulamentar o setor de acordo com as recomendações científicas para proteger o clima fará com que os mais pobres passem fome. A realidade é que o planeta já produz comida suficiente, mas a fome persiste devido ao desperdício, à pobreza e à desigualdade.
6. O Agro é Progresso e Desenvolvimento: Esta linha de raciocínio apresenta o agronegócio como uma força modernizadora, mesmo que os lucros sejam desproporcionalmente capturados por governos e empresas do Norte Global.
7. Eficiência Basta: A indústria alega que a sua contribuição para a crise climática pode ser resolvida por meio da eficiência, com tecnologias que reduzem a “intensidade das emissões”. No entanto, a menos que sejam impostos limites à produção, não há garantia de que uma produção mais eficiente reduzirá a poluição.
8. O Problema Real são os Fósseis: A indústria frequentemente desvia o foco para outros setores, como a indústria de combustíveis fósseis, minimizando sua própria pegada ecológica e atrasando reformas significativas.
A COP30 oferece uma oportunidade para discutir soluções para as mudanças climáticas, mas é fundamental estar ciente dos argumentos enganosos que podem ser utilizados para proteger os interesses do agronegócio em detrimento do meio ambiente e da segurança alimentar.

