O que já sabemos sobre a safra 2026/27? um balanço dos riscos

Embora o plantio da safra de verão atual ainda esteja em curso, uma parcela significativa do setor agro já direciona sua atenção, ao menos em parte, para a temporada seguinte, cujo plantio está previsto para setembro do próximo ano.
Este grupo inclui grandes produtores que iniciam a aquisição de insumos, empresas de fertilizantes, sementes e defensivos buscando posicionamento no mercado, e todos que necessitam antecipar cenários futuros para fins de planejamento.
O panorama inicial para a safra de grãos subsequente à que está sendo plantada atualmente, não se apresenta desfavorável.
Partindo das condições presentes, as projeções apontam para uma continuidade da expansão moderada nas áreas de cultivo de soja e milho. As margens de lucro dos produtores podem se manter relativamente estáveis em comparação com a temporada atual, evitando os extremos observados em 2023 e no início de 2024.
Essas estimativas consideram um câmbio em leve alta, taxas de juros em declínio gradual e um crescimento econômico moderado no Brasil. Fundamentados nesses fatores, a soja e o milho brasileiros devem manter sua competitividade no mercado internacional, impulsionados pela demanda por milho para a produção de etanol e soja para biodiesel, que continua a sustentar o consumo interno.
A comercialização antecipada de fertilizantes, que registrou um aquecimento maior do que nos anos anteriores em setembro, reforça essa percepção relativamente positiva para 2026.
Entretanto, existem motivos para cautela. Um longo período de tempo separa o plantio da safra em questão, e até lá, é necessário concluir o plantio e a colheita da safra de verão atual, além de acompanhar o desenvolvimento da safra de grãos nos Estados Unidos.
Riscos e incertezas permanecem.
É importante considerar que, nos últimos dois anos, quatro fatores atenuaram pressões negativas significativas sobre os preços dos grãos e as margens dos produtores no Brasil:
O câmbio favorável, que sustentou os preços domésticos em 2024.
As altas produtividades deste ano, que contribuíram para a rentabilidade no campo.
Os prêmios elevados da soja, impulsionados pela guerra comercial que intensificou o papel do Brasil como fornecedor preferencial para o mercado chinês.
A demanda aquecida da indústria de biocombustíveis (milho para etanol e soja para biodiesel), que também impulsionou o mercado interno.
Desses quatro fatores, apenas a demanda por biocombustíveis parece assegurada para o próximo ano. Os demais apresentam incertezas.
O câmbio pode enfrentar forte volatilidade em um ano eleitoral no Brasil, embora a tendência global seja de enfraquecimento do dólar.
Os prêmios de exportação tendem a recuar após o acordo que permite à China retomar a compra de soja dos Estados Unidos, ainda que em volumes limitados.
A produtividade das lavouras é sempre uma variável incerta.
Para a safra que está sendo plantada atualmente, os modelos climáticos são favoráveis, mas a perspectiva de um fenômeno La Niña, mesmo que enfraquecido e de curta duração, gera preocupação para a região Sul. Historicamente, anos de La Niña estão associados a maior volatilidade nos preços dos grãos.
Um aspecto importante a ser considerado é que o agronegócio brasileiro pode ser, de certa forma, vítima do seu próprio sucesso. Se as condições nos próximos meses confirmarem o alto potencial produtivo da safra atual de soja e da safrinha de milho, a grande oferta poderá aumentar a pressão negativa sobre os preços ao longo de 2026.
Nesse cenário, o resultado dependerá de fatores externos, como a taxa de câmbio e o desenvolvimento da guerra comercial, cuja influência positiva, como nos últimos dois anos, não está garantida.



