Legado da cop30 será pragmatismo e abertura ao setor privado, aponta líder
A Conferência do Clima COP30, que ocorrerá em Belém, deverá se distinguir por uma abordagem mais pragmática e receptiva à participação do setor privado em comparação com edições anteriores. A avaliação é de Ricardo Mussa, líder da Sustainable Business COP (SB COP), uma iniciativa global liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil, cujo objetivo é influenciar as prioridades dos negociadores durante a cúpula.
Segundo Mussa, cada COP deixou um legado marcante. Enquanto Paris estabeleceu metas de emissão e Dubai debateu o fim dos combustíveis fósseis, Baku mobilizou US$ 300 bilhões em financiamento. A expectativa é que o Brasil deixe como legado um plano de ação concreto.
O contexto geopolítico atual, somado à ausência dos Estados Unidos na COP30, torna improvável um consenso global amplo. Essa conjuntura, na visão de Mussa, impulsionará a conferência para uma agenda mais pragmática. Em vez de focar em novas metas e apoio, o foco estará no que precisa ser feito, com a SB COP demonstrando o caminho a seguir por meio de exemplos concretos.
A participação do setor privado é considerada crucial, uma vez que é responsável por aproximadamente 85% das emissões globais. Mussa coordenou esforços para coletar e refinar recomendações do setor privado para os negociadores, reunindo contribuições de mais de 60 associações empresariais representando 41 milhões de empresas em todo o mundo.
Oito grupos de trabalho foram formados para abordar diferentes temas. O grupo de sistemas alimentares, liderado pelo CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, identificou como prioridade máxima a criação de um modelo de medição de carbono adaptado à agricultura tropical. O objetivo é influenciar os negociadores brasileiros para que as prioridades identificadas por cada grupo sejam incluídas na agenda.
Para Mussa, a prioridade é fazer com que os mercados de carbono funcionem. Ele destaca que o setor privado deve se concentrar em acertar a contabilidade de carbono e apoiar um mercado global de carbono. A estrutura atual de contabilidade de carbono, desenvolvida há cerca de 30 anos, precisa ser atualizada para ganhar credibilidade.
Além das recomendações de políticas, a SB COP compilou 48 estudos de caso corporativos, selecionados entre mais de 1.500 projetos, demonstrando soluções climáticas que geraram tanto retornos financeiros quanto impacto ambiental mensurável. Na categoria de sistemas alimentares, seis projetos foram escolhidos, quatro deles do Brasil, incluindo iniciativas da Fazenda Roncador, JBS, Bayer e Nestlé. Os projetos selecionados atenderam a critérios rigorosos, como tempo de implementação inferior a três anos, desempenho financeiro comprovado, impacto climático mensurável e potencial de escala e replicação.
O modelo da SB COP, uma criação brasileira, tem o potencial de se tornar um legado para futuras conferências climáticas da ONU. Inspirada no B20 Brasil, um fórum empresarial também coordenado pela CNI durante a Cúpula de Líderes do G20, a iniciativa visa manter a expertise do setor privado no centro das discussões climáticas globais. Há expectativa de que países que sediarão futuras COPs adotem o mesmo processo, incentivando o investimento de tempo e conhecimento do setor privado.



