China desperta e desafia o ocidente

Compartilhe

Uma onda de preocupação percorre o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, diante da ascensão da China como potência global. A nação asiática, outrora adormecida, representa um desafio complexo para o eixo Atlântico Norte, que a observa, juntamente com a Rússia, como uma rival formidável.

Enquanto alguns no Ocidente nutrem uma inveja maligna, buscando incessantemente impedir o avanço chinês, outros admiram o progresso do país e desejam aprender com ele. Uma viagem pela China oferece a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essa potência.

A China parece ter aprendido com os erros estratégicos da América Latina, evitando seguir as recomendações do Consenso de Washington. Em vez disso, trilhou seu próprio caminho, adaptando soluções às suas circunstâncias nacionais, copiando quando necessário e inovando sempre que preciso.

Apesar de uma vivência de mais de dois anos em Xangai, como vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, a complexidade e as rápidas transformações da China tornam difícil uma compreensão completa em um curto período. O país, como observou Henry Kissinger, é mais do que uma nação, é uma civilização.

Publicidade

A admiração pelo desempenho da China não deve obscurecer os desafios que o país enfrenta. A desaceleração do crescimento econômico, decorrente da diminuição do dinamismo das exportações e do investimento, é uma preocupação. O aumento do protecionismo contra a China restringe o acesso a mercados importantes, como os Estados Unidos e a Europa. Setores da economia chinesa enfrentam excesso de investimentos e capacidade ociosa.

O impacto dessa desaceleração se manifesta no mercado de trabalho, com altas taxas de desemprego entre os jovens. O baixo consumo agregado, reflexo de diversas dificuldades enfrentadas pela população, pode corroer o apoio ao governo. Insuficiências no sistema de aposentadoria e nos serviços de saúde limitam o consumo privado, incentivando a população a poupar para garantir seu futuro.

Apesar desses desafios, o sucesso da China nos últimos 40 anos é inegável. O modelo econômico chinês, embora complexo, não é um sistema capitalista clássico ou “capitalismo de Estado”. O Estado desempenha um papel central na economia e na sociedade, tornando essa designação enganosa.

Publicidade

O modelo iniciado por Deng Xiao Ping em 1979 se diferencia dos modelos soviéticos e chineses da economia centralmente planificada. A China buscou reestruturar a economia, abrindo espaço para o mercado e o setor privado, sem repetir os erros de Gorbachev.

A Perestroika chinesa foi cautelosa e gradual, sem o tratamento de choque, as privatizações em massa e a liberalização abrupta observados na Rússia. A abertura econômica ocorreu de forma gradual, mantendo o controle sobre os setores estratégicos. Paralelamente, não houve Glasnost na China, com o Partido Comunista Chinês mantendo seu poder e influência.

O combate à corrupção é rigoroso e atinge figuras proeminentes. Os bilionários chineses não têm o mesmo poder político e influência sobre as políticas públicas que seus pares em outros países.

O sistema político chinês, embora fechado, seleciona líderes com base no mérito, afastando o risco de uma kakistocracia. Embora os chineses enfrentem desafios como a dominação dos super-ricos, a corrupção e a mediocridade, têm sido mais bem-sucedidos do que outros países em lidar com esses problemas.

Publicidade

O modelo chinês, descrito pelos próprios chineses como “socialismo com características chinesas”, enfatiza o papel do mercado dentro de um quadro estritamente controlado pelo Estado. O sistema bancário, dominado por bancos estatais, e os controles sobre a entrada e saída de capitais são exemplos desse modelo.

A estabilidade da economia chinesa se baseia em controles sobre a entrada e saída de capitais, contrariando as recomendações do Consenso de Washington. Ao aprender com as experiências de outros países, a China trilhou seu próprio caminho para o sucesso.

A história milenar da China, marcada por uma extraordinária continuidade, é um fator crucial, embora inimitável, para o sucesso do país. O respeito pelos antepassados e pelas tradições históricas coexiste com a busca pela inovação e criatividade.

Mesmo revolucionários como Mao Zedong citavam pensadores clássicos chineses. Ao contrário de outros países, a China não ignora seu passado, mas o integra ao presente.

Publicidade

Para superar as barreiras linguísticas, culturais e geográficas, é fundamental estudar mais a China e aumentar as interações. Sem imitação servil, podemos aprender muito com o país, levando em conta nossas condições históricas e políticas. O amor-próprio, o orgulho e o respeito por si mesmo e pela família, sem cair no individualismo egoísta, são qualidades que podemos aprender com os chineses.

Compartilhe