Conheça a capoeira do black: refúgio e alerta ambiental na amazônia oriental

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A Capoeira do Black, um fragmento florestal de 8,5 hectares dentro do complexo de mais de 3 mil hectares da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA), oferece um refúgio climático notável. Visitantes relatam uma queda de temperatura de até 4°C ao adentrar os primeiros metros da mata fechada, um alívio bem-vindo do calor úmido da cidade.

Este local, que será parte importante da COP30, abrigando a AgriZone e suas discussões sobre adaptação da agricultura às mudanças climáticas, possui uma história rica. Originalmente mata virgem, a área sofreu desflorestamento antes de iniciar um processo de restauração, impulsionado pela proximidade de áreas preservadas como o Parque do Tinga.

Hoje, após quase um século, a Capoeira do Black se assemelha a uma floresta, com uma biodiversidade impressionante. Mais de 40 espécies de pássaros e cerca de 265 tipos de árvores prosperam ali, juntamente com uma variedade de flores, insetos, fungos e pequenos animais. A fauna local conta ainda com abelhas do vizinho Meliponário Iratama, que produzem mel de forma sustentável. A interação entre pássaros, morcegos e abelhas impulsiona a distribuição de sementes e a polinização, resultando em uma diversidade biológica oito vezes maior do que a encontrada em toda a Inglaterra.

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A pesquisadora Joice Ferreira destaca o potencial de regeneração natural da Amazônia, com áreas anteriormente devastadas se recuperando. A Capoeira do Black recebeu este nome em homenagem a George Alexander Black, um pesquisador americano que iniciou registros botânico-científicos pioneiros no local em 1945 e atuou como guardião da área até sua morte em 1957.

A história da Capoeira inclui um período sob os cuidados do Instituto Agronômico do Norte (IAN), seguido por um período de ameaças durante a construção da rodovia Murutucu nos anos 1970. Em 1998, a área passou a integrar a Embrapa Amazônia Oriental, e entre 2000 e 2005, houve um período de intensa recuperação florestal.

Atualmente, a Capoeira do Black não é apenas um laboratório natural, mas também um espaço de lazer e educação para a população local, com trilhas renovadas para visitantes. Inspirada por este exemplo, foi criado o Centro Avançado em Pesquisas Socioecológicas da Recuperação da Amazônia, com o objetivo de replicar o sucesso da Capoeira em outras regiões do bioma.

Além de sua importância ambiental, a floresta desempenha um papel crucial na agricultura, contribuindo para a redução da temperatura, aumento da umidade e melhoria da produtividade em culturas vizinhas, como soja, milho, trigo e cacau. A presença da mata também atrai polinizadores e predadores de pragas, diminuindo a necessidade de defensivos químicos.

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A Capoeira do Black demonstra o potencial do Brasil em ser recompensado pela regeneração de seus biomas nativos. Uma única árvore, por exemplo, pode armazenar o equivalente ao carbono emitido por dois carros a gasolina em um ano. No entanto, a pesquisadora alerta que, apesar da capacidade de regeneração da natureza, o processo demanda tempo, um recurso que a humanidade não pode mais desperdiçar. Apesar do alerta, o otimismo prevalece, com evidências de melhorias expressivas em temperatura, umidade e qualidade do solo em um período relativamente curto de recuperação.

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