Nova vacina oral probiótica demonstra potencial contra o câncer em testes
Uma nova abordagem para o combate ao câncer, utilizando uma vacina oral probiótica, demonstra resultados promissores em modelos pré-clínicos de melanoma. A inovação reside na combinação de bactérias probióticas geneticamente modificadas com nanopartículas de ferritina, projetadas para exibir antígenos tumorais e, assim, estimular o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas.
O mecanismo da vacina é engenhoso. As bactérias probióticas são programadas para se autodestruírem no ambiente intestinal, um processo induzido pela presença de arabinose. Essa autodestruição libera nanopartículas de ferritina carregadas de antígenos tumorais. Essas nanopartículas, por sua vez, conseguem atravessar a barreira intestinal através de células M especializadas, alcançando as células do sistema imune presentes no local.
Uma vez em contato com o sistema imune, as nanopartículas ativam as células dendríticas mucosas. Essa ativação desencadeia uma resposta imune robusta e direcionada, envolvendo células T (CD8+ e CD4+), células B e macrófagos. Além disso, o sistema demonstra a capacidade de gerar memória imunológica, o que sugere uma proteção de longo prazo contra o câncer, sem comprometer a imunidade normal do organismo ou do intestino.
A vacina utiliza uma bactéria probiótica modificada para produzir nanopartículas de ferritina que exibem dois antígenos tumorais específicos: OVA (um antígeno modelo) e TRP2 (associado ao melanoma). A apresentação multivalente desses antígenos, ou seja, a exposição de múltiplos antígenos em uma única partícula, facilita o reconhecimento pelo sistema imune.
Nos experimentos realizados em camundongos com melanoma, os pesquisadores observaram uma ativação significativa de linfócitos T CD8+ e CD4+, células essenciais para o ataque às células tumorais. Houve também um estímulo das células B e dos macrófagos, ampliando a resposta imunológica. Notavelmente, a vacina também demonstrou a capacidade de diminuir as células T reguladoras (Tregs), que podem suprimir a resposta imune, o que é benéfico para o combate ao câncer.
Em modelos de melanoma com metástase pulmonar ou tumores subcutâneos, os animais vacinados apresentaram uma redução notável no crescimento tumoral. E todos esses resultados foram alcançados sem causar desequilíbrios imunológicos no organismo ou no intestino, conforme relatam os pesquisadores.
A vacina oral oferece vantagens consideráveis, como a dispensa de agulhas, devido à sua administração via oral. A lise bacteriana controlada garante que os antígenos sejam liberados no local ideal, o intestino. A estrutura multivalente das nanopartículas de ferritina otimiza a apresentação dos antígenos, aumentando a potência imunogênica da vacina.
Apesar do potencial demonstrado, a transição para o uso clínico em humanos ainda enfrenta desafios. A lise bacteriana precisa ser rigorosamente calibrada para evitar inflamação ou outros efeitos adversos. A produção em larga escala da cepa modificada e das nanopartículas, com os padrões de qualidade exigidos pela indústria farmacêutica, também representa um obstáculo a ser superado. Terapias baseadas em microrganismos vivos exigem uma avaliação complexa para aprovação regulatória. Além disso, os resultados observados em modelos animais nem sempre se traduzem diretamente em benefícios para humanos, o que exige mais estudos antes de qualquer aplicação clínica.
