Semente de soja: empresas brasileiras sofrem com excesso e crise de crédito

Empresas de sementes de soja no Brasil enfrentam uma de suas piores crises, agravada por um cenário de crédito restrito para os agricultores e um excedente recorde de estoque. A situação tem desencadeado uma guerra de preços que comprime ainda mais as margens de lucro, com vendedores em dificuldades e tentativas de renegociação de prazos de pagamento com fornecedores.
O mercado turbulento abre oportunidades para empresas com boa capitalização que buscam consolidar o setor de sementes no Brasil. Um exemplo é a Pátria Investimentos, que iniciou sua estratégia com a aquisição da São Francisco, sediada em Goiás. Outras empresas, como a Boa Safra, impulsionada por um balanço financeiro mais sólido, também tentam aproveitar o momento para acelerar o crescimento, promovendo campanhas de vendas agressivas.
A supersafra de sementes de soja na temporada 2024/25 deve atingir um excedente entre 30% e 40%, um patamar sem precedentes, de acordo com a ABRASS (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja). Segundo a associação, sempre há um excedente, mas o excesso tem crescido nos últimos anos, atingindo um recorde na safra atual. Como a semente de soja não mantém a qualidade comercial para a temporada seguinte, os produtores precisam vender o excedente como grão, eliminando margens e receitas.
Um produtor do Mato Grosso estima que um saco de 60 kg de sementes de soja que normalmente venderia por R$ 220, excluindo royalties, seria vendido como grão por R$ 130, resultando em uma perda de R$ 90.
Participantes do mercado apontam três fatores principais para o excesso de oferta. Nos últimos anos, novos players entraram no segmento após receberem cotas de produção adicionais da GDM, grupo argentino que controla cerca de 76% do mercado brasileiro de germoplasma de soja. Além disso, empresas tradicionais também aumentaram a capacidade de processamento durante os anos de expansão, deixando o setor com um número crescente de plantas ociosas. A isso se soma o aumento da pirataria: agricultores guardando sementes além do permitido para uso na propriedade. Essa prática é menos comum no Mato Grosso, onde o clima dificulta a preservação das sementes sem refrigeração, mas está se expandindo em outros estados.
A restrição do crédito também incentiva a mudança para sementes não certificadas. A ABRASS estima que as sementes não certificadas (guardadas ou pirateadas) aumentaram de 25% para 30% do mercado.
No curto prazo, a incerteza domina. Além da fraca demanda e do estresse financeiro, as finanças deterioradas de algumas empresas de sementes levantaram preocupações sobre o pagamento de royalties. Em casos extremos, a conta pode recair sobre os agricultores. Os multiplicadores coletam royalties dos produtores no ponto de venda e devem repassá-los aos fornecedores de tecnologia. Se empresas com dificuldades financeiras não remeterem esses pagamentos, os agricultores podem enfrentar cobranças duplicadas ao entregar grãos nos armazéns.



