Gaza: plano da onu pode inviabilizar a permanência de palestinos
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, em 17 de novembro, um plano de paz para Gaza proposto pelo então presidente Donald Trump. A iniciativa prevê a criação de uma “Comissão da Paz”, liderada por Trump e com a participação de líderes estrangeiros, incluindo Tony Blair, para supervisionar a administração do território.
Trump comemorou a aprovação, classificando-a como um “momento de proporções históricas” e um prenúncio de “mais paz por todo o mundo”. O plano, anexado à resolução da ONU, deixa de lado a Autoridade Palestina, rejeita o governo do Hamas e promete “empregos, oportunidades e esperança” aos palestinos em Gaza, além de afirmar o direito de escolher entre ficar ou sair, e o direito de retorno daqueles que deixaram a região.
No entanto, o plano pode dificultar a permanência dos palestinos em Gaza, ao tornar a reconstrução de casas e infraestrutura civil inacessível para muitos. A principal exigência, agora presente na resolução do Conselho de Segurança, é que o Hamas e outros grupos armados palestinos entreguem suas armas. Caso se recusem, a resolução permite que o exército israelense mantenha controle direto sobre uma área denominada “perímetro de segurança”.
Essa área corresponde a 53% do território, incluindo toda a fronteira com Israel e estendendo-se profundamente no interior, abrangendo a maior parte das terras cultiváveis e zonas industriais. A resolução exige que o exército israelense se retire progressivamente de Gaza, mas vincula essa retirada à desmilitarização palestina, sem estabelecer um cronograma. Israel poderá manter o perímetro de segurança “até que Gaza esteja devidamente segura contra qualquer ameaça ressurgente de terror”. Uma Força Internacional de Estabilização seria criada para supervisionar o desarmamento em cooperação com Israel e Egito.
A presença de tropas israelenses na maior parte de Gaza pode se tornar permanente, já que o exército israelense não conseguiu desarmar o Hamas em dois anos de guerra intensa e é improvável que forças estrangeiras tentem fazê-lo.
O plano abandona a reconstrução nas áreas ainda controladas pelo Hamas. Enquanto isso, autoridades norte-americanas estariam planejando a construção de moradias na área leste, controlada diretamente pelo exército israelense, além da chamada Linha Amarela. Autoridades israelenses começaram a demarcar essa linha com blocos de concreto pintados e mataram palestinos, incluindo crianças, que a cruzaram.
A reconstrução é urgente, já que 81% das estruturas de Gaza foram danificadas ou destruídas e a maioria dos palestinos não tem mais suas casas. O exército israelense realizou demolições planejadas em grande escala, arrasando bairros inteiros em ambos os lados da Linha Amarela. A resolução da ONU pede apoio do Banco Mundial e a criação de um fundo multinacional para custear a reconstrução, e o Egito planeja sediar uma reunião de países doadores para arrecadar fundos. No entanto, como os materiais de construção não podem entrar em Gaza sem permissão israelense, o plano endossado pela ONU garante que será impossível reconstruir de forma que beneficie a vasta maioria dos palestinos.
Mesmo que o governo israelense tenha atenuado seus apelos pela “emigração voluntária” dos residentes de Gaza e o plano Trump afirme o direito das pessoas em Gaza de ficar, os palestinos terão dificuldade para permanecer mesmo nos 47% de Gaza ainda acessíveis a eles.

