O fantasma do petróleo a US$ 30

O mercado de petróleo enfrenta a possibilidade de um choque de preços, com projeções indicando que o barril pode atingir US$ 30 até 2027, caso a oferta global não seja significativamente reduzida. Este cenário, embora não seja a previsão principal, levanta preocupações sobre o futuro financeiro de grandes empresas do setor.
Uma queda acentuada nos preços do petróleo teria um impacto considerável, forçando algumas empresas a consumirem suas reservas financeiras para manter a produção. Para ilustrar, a Petrobras poderia enfrentar uma queima de US$ 4 por barril produzido nessa situação extrema.
Apesar das tarifas impostas, do avanço da eletrificação na China e do crescimento acelerado pós-pandemia, a demanda mundial por petróleo deve permanecer aquecida. Estima-se um aumento na procura de 0,9 milhão de barris por dia este ano, elevando a demanda total para 105,5 milhões de barris diários. Projeções apontam para um crescimento semelhante em 2026 e um incremento de 1,2 milhão de barris por dia em 2027.
O principal desafio reside no desequilíbrio entre oferta e demanda. Sem cortes na produção, o crescimento da oferta poderá superar em até três vezes o da demanda em 2026, levando a um aumento substancial nos estoques e, consequentemente, a uma queda nos preços.
Embora a redução da produção para controlar os preços não seja uma novidade no mercado de petróleo, o cenário atual apresenta novos desafios. O mercado conta com novos atores relevantes, com metade do excesso de oferta originário de países fora da OPEP+. A crescente participação de diferentes nações exigirá uma coordenação mais ampla para gerenciar os rumos do mercado.
O aumento da produção no Brasil e na Guiana, com a exploração offshore, somado ao desenvolvimento do shale na Argentina, intensificam a complexidade do cenário. Além disso, as sanções dos EUA sobre a Rússia e a Venezuela, grandes produtores, adicionam incerteza ao mercado.
Uma eventual mudança no governo venezuelano e o possível fim do conflito na Ucrânia representam riscos de aumento na oferta global. A produção offshore, por sua vez, deve se manter estável devido a contratos já firmados e investimentos realizados.
A expectativa é que os cortes de produção recaiam principalmente sobre a produção onshore, tanto da OPEP+ quanto do shale americano. Cálculos sugerem que uma redução de aproximadamente 2 milhões de barris por dia seria necessária a partir de meados do próximo ano para alcançar um cenário de preços mais equilibrado em 2027.
Uma possível queda nos preços poderia impulsionar a demanda, especialmente em regiões como Ásia e África. A ausência de intervenção no mercado poderia resultar em uma queda involuntária na oferta, com a paralisação da produção entre os produtores fora da OPEP+, à medida que as margens de lucro se aproximam de zero.
Atualmente, a Petrobras precisa de um barril de petróleo em torno de US$ 34 para atingir o ponto de equilíbrio. Em um cenário de preços muito baixos, a empresa poderia suspender o pagamento de dividendos, reduzir investimentos e paralisar projetos de plataformas.
Um cenário de petróleo a US$ 50 poderia agravar a situação da Petrobras, elevando sua dívida para mais de US$ 100 bilhões. Além disso, o risco de investimentos malsucedidos aumentaria, com consequências ainda mais severas.


