O esturro do jacaré: quando a água dança no pantanal
Testemunhar círculos concêntricos se formando na água, enquanto um jacaré permanece quase imóvel, vibrando intensamente e emitindo um som grave, é um espetáculo fascinante no Pantanal. Esse fenômeno, conhecido como esturro ou brunido, representa uma forma complexa de comunicação utilizada por esses répteis.
O esturro consiste em uma vocalização profunda acompanhada de vibrações que se propagam por todo o corpo do animal. O som, forte e grave, é precedido por pulsos de infrassons, que criam a ilusão de que a água ao redor do jacaré está dançando ou fervendo.
Guias turísticos e fotógrafos de vida selvagem têm registrado este comportamento único no Pantanal mato-grossense, demonstrando a força física desses predadores e sua capacidade de influenciar o ambiente.
O esturro possui diversas funções: marcação de território, demonstração de força, afastamento de rivais e atração de fêmeas durante a reprodução. Machos e fêmeas produzem essa vocalização, embora apenas os machos emitam os pulsos de infrassons que antecedem o som audível. Essa diferença sexual é crucial na época do acasalamento, quando os machos competem pela atenção das fêmeas.
A vocalização ocorre durante todo o ano, mas se intensifica na temporada de cortejo, quando os jacarés esturram diariamente em coros para atrair parceiros. As fêmeas costumam iniciar o coro, mas os machos o mantêm.
Os machos emitem infrassons, sons de baixa frequência que fazem a água tremer, atraindo potenciais parceiras. Esses sons, também chamados de “vibrações subaudíveis”, são inaudíveis para o ouvido humano, tornando o fenômeno ainda mais intrigante. As vibrações criam ondas que podem auxiliar parceiros em potencial a localizar os jacarés, ou podem ser um efeito secundário da vocalização.
No Brasil, seis espécies de jacarés desenvolveram essa capacidade de vocalização: jacaré-paguá ou jacaré-anão (Paleosuchus palpebrosus), jacaré-açu (Melanosuchus niger), jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris), jacaré-do-pantanal (Caiman yacare), jacaretinga (Caiman crocodilus) e jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). Durante o período reprodutivo, entre outubro e fevereiro, os machos buscam atrair as fêmeas elevando o corpo, vibrando a água e emitindo sons.
A comunicação dos jacarés se estende além dos sons produzidos pelos adultos. Os filhotes vocalizam para a mãe ainda dentro dos ovos, indicando o momento do nascimento. Esses sons também alertam os outros filhotes. Além disso, quando um jacaré se sente estressado, ansioso, chocado ou assustado, pode emitir um ganido, um breve choro ou lamento.
Os jacarés, como predadores no topo da cadeia alimentar, desempenham um papel crucial no controle de populações de presas e na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. A eliminação dessas espécies teria consequências negativas para outras espécies e para os seres humanos. O jacaré-de-papo-amarelo, por exemplo, alimenta-se de moluscos gastrópodes que disseminam doenças nas populações ribeirinhas.
Todas as espécies de jacaré no Brasil são classificadas como não ameaçadas de extinção em nível nacional, embora algumas enfrentem pressões regionais devido à perda de habitat. A observação responsável desses animais em seu ambiente natural permite que cientistas e admiradores da natureza compreendam melhor seus comportamentos e contribuam para sua conservação.


