Irrigação estratégica no cerrado diminui emissão de gases e aumenta produtividade

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Estudo inédito aponta que a irrigação correta do trigo no Cerrado pode reduzir em até 50% a emissão de gases de efeito estufa, além de manter a produtividade da lavoura. A pesquisa, desenvolvida pela Embrapa Cerrados, investigou o manejo hídrico do trigo em condições tropicais, buscando um equilíbrio entre rendimento e sustentabilidade ambiental.

Os pesquisadores descobriram que o momento ideal para irrigar é quando o solo consome 40% da água disponível. Para chegar a essa conclusão, foram testados quatro níveis de esgotamento da umidade do solo: 20%, 40%, 60% e 80%. O objetivo era medir a produtividade, o consumo de água e a emissão de gases poluentes em cada situação.

Após dois anos de análise, o nível de 40% se mostrou o mais eficiente. Nesse cenário, o trigo apresentou alta produtividade e baixas emissões de gases de efeito estufa, gerando o melhor Potencial de Aquecimento Global (indicador que considera as emissões de óxido nitroso e metano). A produção média alcançou 6,8 toneladas por hectare, enquanto as emissões de óxido nitroso ficaram abaixo de 3 quilos por hectare – um gás quase 300 vezes mais poluente que o dióxido de carbono.

O maior impacto ambiental foi observado quando a irrigação ocorria após 60% do consumo da água do solo. Nesse caso, o Potencial de Aquecimento Global atingiu 1.185,8 quilos de CO₂ equivalente, e a produtividade caiu para 5,69 toneladas por hectare.

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Comparado ao manejo aos 60%, a irrigação aos 40% reduziu 41,3% das emissões totais, ao mesmo tempo em que garantiu quase 20% mais produtividade na lavoura. Os pesquisadores enfatizam que pequenos ajustes no manejo da irrigação podem gerar um grande impacto ambiental positivo, e que a irrigação tardia eleva as emissões e prejudica a eficiência climática.

A pesquisa também revelou que longos períodos de seca do solo estimulam a produção de gases nocivos, e que a irrigação intensa após esse período provoca reações microbianas indesejadas, aumentando as liberações de óxido nitroso e metano.

Um achado interessante foi que, nas condições ideais de irrigação, o solo passou a absorver metano da atmosfera, em vez de emiti-lo. Segundo os pesquisadores, o solo bem drenado favorece microrganismos consumidores de metano, transformando um vilão climático em aliado da produção sustentável.

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O experimento foi realizado na área da Embrapa Cerrados, em Planaltina, no Distrito Federal, entre 2022 e 2024, em lavouras que seguiram o sistema de plantio direto em sucessão soja-trigo.

O trigo irrigado já ocupa uma área significativa no Cerrado, ajudando a reduzir a dependência brasileira de importações e fortalecendo a produção em regiões tropicais. A equipe de pesquisa pretende ampliar a análise climática, testando a irrigação em sistemas com milho, café e soja, buscando soluções para tornar o Brasil referência em agricultura sustentável.

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