Curativo inovador de tilápia chega à indústria e almeja o sus
Um curativo biológico inovador, desenvolvido a partir da pele da tilápia na Universidade Federal do Ceará (UFC), está prestes a revolucionar o tratamento de queimaduras e outras condições médicas no Brasil. Após uma década de pesquisa e testes bem-sucedidos em pacientes, a tecnologia está sendo licenciada para a farmacêutica Biotec, marcando a primeira vez que será produzida em escala industrial.
A parceria entre a universidade e a empresa privada representa um marco significativo, permitindo que uma inovação acadêmica alcance um público muito maior. O curativo de pele de tilápia, criado em 2015 pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, até então era utilizado apenas em projetos específicos devido à falta de capacidade de produção em grande escala.
A Biotec, sediada em São José dos Campos (SP), planeja investir R$ 48 milhões na construção de uma fábrica dedicada exclusivamente à produção do curativo. Desse montante, R$ 44 milhões serão destinados à planta industrial e R$ 4 milhões à operacionalização. A expectativa é que a produção comece até o final de 2027, após a obtenção das licenças e adequações técnicas necessárias.
A tecnologia se destaca por seu potencial para reduzir a dor dos pacientes, muitas vezes eliminando-a em até 48 horas, e diminuir a necessidade de analgésicos potentes como a morfina. O material adere ao corpo do paciente, integrando-se de maneira similar à pele humana. Além do tratamento de queimaduras, o curativo tem demonstrado eficácia na reconstrução vaginal em mulheres submetidas à radioterapia.
A Biotec vislumbra um futuro promissor, com a expansão da produção e o atendimento à crescente demanda no Brasil. Estima-se que um milhão de brasileiros sofram queimaduras a cada ano, e cada paciente utiliza, em média, 22 unidades de pele de tilápia. Isso se traduz em uma demanda anual superior a 22 milhões de unidades.
A empresa planeja disponibilizar o produto para hospitais, incluindo aqueles que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e também desenvolver uma versão veterinária. Além disso, há planos de exportar a tecnologia para países como China e Estados Unidos, onde já existe interesse.
A fábrica deverá iniciar a produção com um milhão de unidades no primeiro ano, com uma meta de alcançar 30 milhões em três anos. A UFC e os inventores receberão R$ 850 mil pela cessão dos direitos de exploração, além de 3,7% de royalties sobre o lucro líquido da fábrica e a possibilidade de reinvestir 0,5% em pesquisa.
A localização exata da fábrica ainda está em estudo, mas a Biotec considera São Paulo devido à concentração de produtores de tilápia e à infraestrutura logística favorável à esterilização do material. A produção inicial será manual, mas a empresa planeja automatizar o processo ao longo do tempo para atender à demanda crescente. A industrialização do curativo representa um avanço significativo, transformando uma pesquisa universitária em um produto com potencial de gerar impacto social, econômico e científico em larga escala.

