A economia sombria por trás do genocídio, segundo varoufakis
Yanis Varoufakis, economista e político, lança luz sobre as forças econômicas que impulsionam o genocídio, em depoimento no Tribunal de Gaza. Ele argumenta que o capitalismo, em sua essência, prospera com a miséria humana e a destruição, e que o genocídio se tornou uma atividade lucrativa, especialmente com a ascensão de novas formas de capital.
Varoufakis destaca que, mesmo com a queda na demanda, produção e confiança do consumidor em Israel, a bolsa de valores israelense experimentou um aumento significativo desde o início dos eventos em Gaza. Esse fenômeno reflete a intrincada relação entre a economia política da ocupação e as empresas israelenses, que estão interligadas com megacorporações dos Estados Unidos, Europa e Coreia do Sul, formando uma vasta rede internacional que se expandiu rapidamente após outubro. O aumento do orçamento de defesa israelense atraiu investimentos substanciais para sua máquina bélica.
O economista relembra que interesses econômicos sempre foram cruciais para empreendimentos coloniais e, frequentemente, para os genocídios que estes perpetraram. O setor corporativo tem sido parte integrante do colonialismo desde seu início, contribuindo para a violência, exploração e despojo de povos e terras indígenas, um modelo de dominação conhecido como capitalismo colonial racial.
Varoufakis identifica três fases da expropriação colonial. A primeira fase envolve a pilhagem brutal de terras e a conversão de populações nativas em mão de obra barata ou escrava. Na Palestina, essa fase foi evidente desde a Declaração Balfour e, ainda mais, durante e após a Nakba, resultando na expropriação de terras palestinas e na transformação de palestinos em refugiados ou confinados em bantustões.
A segunda fase, o neoimperialismo, concentra-se em garantir mercados para o excedente de mercadorias das metrópoles capitalistas. Na Palestina, isso se manifestou no grande volume de armamentos importados de países como os Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, impulsionando a demanda agregada nessas nações. Mais recentemente, fabricantes de armas israelenses tornaram-se exportadores, vendendo tecnologia bélica testada na população palestina para outros países, incluindo a Grécia.
A terceira fase, que Varoufakis denomina tecnofeudal, é impulsionada pelo acúmulo de uma nova forma de capital, o capital na nuvem. Essa rede de máquinas, composta por dispositivos e algoritmos, é treinada para conhecer e manipular o comportamento humano, conferindo aos seus proprietários poderes para influenciar as ações das pessoas contra a sua vontade.
Nesse contexto, Varoufakis ressalta que Israel concedeu à IBM amplo acesso aos dados biométricos de sua população. Desde o início dos eventos em Gaza, empresas como Microsoft, Amazon, Alphabet e Palantir têm expandido sua presença de capital na nuvem, testando softwares de reconhecimento facial, algoritmos de seleção de alvos e sistemas de execução automatizada em tempo real, com menos restrições éticas do que em experimentos com animais.
O economista argumenta que a guerra sempre foi lucrativa para comerciantes de armas e outros setores do capital. No entanto, na era tecnofeudal, o capital na nuvem acumula novos poderes diretamente nos campos de batalha, aprimorando a capacidade de seus algoritmos de compreender e manipular os seres humanos. A experiência em tempo real de monitorar e manipular o comportamento de combatentes, selecionadores de alvos, políticos e da população alvo de aniquilação contribui para a eficiência do capital na nuvem.
Varoufakis conclui que os dispositivos de direcionamento de mira por inteligência artificial, que hoje maximizam a morte e a destruição em Gaza, impulsionarão os algoritmos da Amazon, Google e Microsoft, influenciando o comportamento do consumidor e exacerbando a exploração da força de trabalho em todo o mundo. Ele enfatiza que a libertação dos palestinos do colonialismo está interligada com a liberdade de todos os povos do medo e da manipulação.

