A fronteira invisível: por que furacões não cruzam o equador

Por mais poderosos que sejam, furacões enfrentam um limite intransponível: a linha do equador. Essa barreira é resultado do efeito Coriolis, um fenômeno físico ligado à rotação da Terra.

Ao analisar as trajetórias de furacões, tufões e ciclones, observa-se que nenhum cruzou a linha do Equador. Podem viajar milhares de quilômetros, devastando áreas costeiras, mas param ao encontrar a linha imaginária que divide a Terra. Não é coincidência, mas uma lei física imposta pela rotação da Terra e a força de Coriolis.
O início da rotação
Para entender por que o equador é uma zona proibida, é preciso analisar o mecanismo que mantém um furacão ativo. Esses sistemas são vórtices de baixa pressão que atraem o ar, mas este não se desloca em linha reta devido à rotação da Terra.
No hemisfério norte, o desvio é para a direita, fazendo o sistema girar no sentido anti-horário. No hemisfério sul, o desvio para a esquerda gera uma rotação no sentido horário.

Essa diferença se deve à força de Coriolis, um efeito aparente causado pelo movimento do ar sobre a Terra, que gira a velocidades diferentes dependendo da latitude.
No equador, a Terra gira a cerca de 1600 km/h. Próximo aos polos, a circunferência diminui e a velocidade de rotação se reduz.
À medida que o ar se desloca do equador em direção aos polos, tende a manter sua velocidade de rotação inicial, “ultrapassando” o solo abaixo. Assim, o ar é forçado a curvar-se, incapaz de atingir o centro do sistema de baixa pressão. Ao curvar sua trajetória, cada molécula de ar permite que o furacão espirale.

A força de Coriolis é fundamental. Aviões precisam corrigir sua rota para chegar ao destino, usando sistemas de navegação inercial. Sem considerar o efeito Coriolis, poderiam desviar-se centenas de quilômetros.
A regra dos 5 graus
A força de Coriolis é proporcional à latitude, sendo mais intensa nos polos e nula no equador. No equador, na latitude zero, o desvio é zero.
Sem esse impulso lateral, o ar convergindo para a baixa pressão entraria diretamente no centro, preenchendo o vazio sem gerar vórtice. O gatilho está ausente.
Se um furacão formado tentasse cruzar a linha do equador, o motor que o mantém unido se desligaria. Além disso, para cruzar para o outro hemisfério, teria que inverter instantaneamente seu sentido de rotação, algo impossível. O sistema se desintegraria antes da transição.
Artilharia e Simpsons
A força de Coriolis não é apenas uma teoria, como demonstrado durante a Batalha das Ilhas Malvinas na Primeira Guerra Mundial, em 1914.
A artilharia britânica teve dificuldades em atingir navios alemães porque seus sistemas de mira estavam calibrados para o Hemisfério Norte. Lutando no Hemisfério Sul, o efeito Coriolis atuava na direção oposta, e os projéteis eram desviados dezenas de metros de seus alvos.

Um episódio da série “Os Simpsons” ilustra os limites dessa força. Bart liga para uma criança australiana para verificar para que lado a água do vaso sanitário gira, acreditando que gira diferente dos Estados Unidos.
É uma piada que se baseia em um conceito de física falho. A força de Coriolis só é eficaz em grande escala e durante longos períodos, como no caso dos furacões. Em uma pia ou vaso sanitário, a massa de água é pequena e o tempo de descarga curto, a direção do vórtice depende da forma da torneira ou dos jatos de água, não da rotação da Terra.
O mesmo se aplica a tornados ou “redemoinhos de poeira” que, apesar de violentos, são pequenos e rápidos demais para serem dominados pela rotação da Terra. A direção da rotação de um tornado depende das correntes de ar locais, não do hemisfério.
Fonte: www.tempo.com

