Abacaxis resistentes à fusariose surgem como esperança para produtores

Compartilhe

Em Frutal, Minas Gerais, uma imagem contrastante capturou a atenção da comunidade agrícola em 2023: de um lado, uma plantação de abacaxis devastada pela fusariose, e do outro, frutos saudáveis e vibrantes sob o sol. Essa cena marcante destacou o potencial de duas novas variedades de abacaxi, BRS Sol Bahia e BRS Diamante, desenvolvidas pela Embrapa, para combater a devastadora doença.

Para produtores como Júlio Cesar Leonel, que enfrentou perdas significativas devido à fusariose, a descoberta representou um raio de esperança. “Foi um desastre nas plantações comerciais”, relembra Leonel, ressaltando que as plantas do experimento da Embrapa permaneceram intactas, mesmo diante da epidemia.

A fusariose, causada pelo fungo Fusarium guttiforme, pode dizimar até 100% de uma plantação, tornando os frutos impróprios para o consumo e causando prejuízos totais aos produtores. Davi Junghans, pesquisador da Embrapa e líder do programa de melhoramento genético do abacaxi, enfatiza a gravidade da doença: “A fusariose tem capacidade de eliminar uma plantação inteira. É diferente de doença foliar. Aqui, você perde tudo.”

As cultivares BRS Sol Bahia e BRS Diamante são resultado de anos de pesquisa e representam uma solução promissora para o problema. Embora compartilhem a mesma origem genética, cada variedade possui características distintas. A BRS Sol Bahia tem peso médio de 1,37 kg e matura cerca de duas semanas após a variedade Pérola, apresentando polpa creme e alto teor de açúcar. Já a BRS Diamante pesa em média 1,67 kg, matura 30 dias após a Pérola, e possui uma janela comercial mais ampla.

Publicidade

Além da resistência à fusariose, as novas cultivares oferecem outras vantagens, como a menor presença de espinhos, facilitando o manejo, frutos mais firmes, que resistem melhor ao transporte, e uma produtividade notável de 56 toneladas por hectare, superando a média nacional de 26 t/ha.

O desenvolvimento dessas variedades teve início em 2012, com o cruzamento de uma variedade amazônica (FRF 632) com a cultivar Gold (MD-2). Após experimentos rigorosos em Frutal, iniciados em 2018, as novas cultivares demonstraram sua resistência à fusariose, contrastando com a devastação observada em lavouras comerciais vizinhas.

Um aspecto crucial a ser considerado é o ponto de colheita. Diferentemente da variedade Pérola, que precisa ser colhida verde, as novas cultivares devem apresentar uma coloração amarela na casca entre 50% e 75%. Essa característica exige uma mudança na percepção dos consumidores, que tradicionalmente associam a cor amarela ao amadurecimento excessivo do abacaxi.

Publicidade

O lançamento oficial das novas cultivares ocorreu em 12 de novembro, em Frutal, município que se destaca como o maior produtor de abacaxi de Minas Gerais. O estado ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de produção, impulsionado pela agricultura familiar, que responde por quase 80% do volume produzido.

A resistência genética à fusariose traz benefícios tanto para os produtores, que economizam em defensivos químicos, quanto para os consumidores, que recebem frutos livres de resíduos de fungicidas. Para garantir a qualidade das mudas, a Embrapa criou a Rede Ananás, que organiza a produção e distribuição de material genético certificado.

Com o lançamento dessas novas variedades, o Brasil, quarto maior produtor mundial de abacaxi, fortalece sua posição no mercado global e contribui para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em especial o ODS 2: “Fome zero e agricultura sustentável”.

Compartilhe