Atenção: ressaca abalando o mercado de debêntures incentivadas

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Após um período de taxas comprimidas, os spreads das debêntures incentivadas de infraestrutura apresentaram abertura nas últimas semanas, gerando preocupação no mercado de renda fixa.

A elevação das taxas, refletindo uma desvalorização dos títulos, impactou negativamente as cotas dos fundos dedicados a esse tipo de investimento. Esse cenário aumenta o risco de resgates, em um produto que experimentou forte crescimento nos últimos dois anos, impulsionado pela isenção de Imposto de Renda e retornos consistentes.

Essa mudança de cenário ocorre após a retirada da pauta do Congresso, em 1º de outubro, da proposta de taxar novas emissões. A possibilidade da taxação desencadeou uma corrida por debêntures incentivadas, o que levou os spreads a patamares considerados insustentáveis.

Relatórios recentes indicam uma abertura significativa nos spreads nas últimas semanas. No ponto mais baixo, esses papéis chegaram a ser negociados com um desconto considerável em relação às NTN-Bs. Atualmente, o desconto é bem menor, e a média dos últimos 12 meses mostrava um prêmio em relação às NTN-Bs, cujo retorno é tributado.

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A incerteza reside agora no novo ponto de equilíbrio e na reação dos investidores diante da desvalorização das cotas. Resgates em grande volume podem forçar os gestores a venderem os papéis rapidamente, o que pode intensificar a pressão negativa sobre os preços.

Há opiniões divergentes sobre o impacto dos resgates. Alguns analistas acreditam que o setor está relativamente protegido, pois muitos fundos operam com resgate em D+30 (30 dias após a solicitação). No entanto, a obrigatoriedade dos fundos de debêntures incentivadas de manterem uma porcentagem crescente do patrimônio líquido nesses papéis, que aumenta com o tempo, pode ter levado alguns gestores a adquirir títulos a preços menos atrativos, em busca de cumprir as exigências.

Observou-se que alguns papéis com alta classificação de risco (AAA) e longo prazo alcançaram preços no mercado secundário que não ofereciam vantagens em relação às debêntures simples, tributadas, dos mesmos emissores.

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Até meados de outubro, os fundos de debêntures incentivadas registraram captação expressiva, com um pico em agosto. Contudo, nas primeiras semanas de outubro, houve uma desaceleração na captação.

Especialistas apontam que, embora a coincidência temporal entre a alta das taxas e a suspensão da taxação das debêntures seja notável, este evento pode não ter sido o fator determinante na recente movimentação do mercado. Já existia um desconforto com os spreads negativos e uma percepção de que os mercados primário e secundário estavam buscando novas mínimas de taxa devido à necessidade de alocação dos fundos, e não por uma convicção de que as taxas deveriam ser tão baixas.

A correção observada, segundo analistas, raramente ocorre de forma gradual. A venda de lotes maiores por alguns gestores pode ter gerado um sentimento generalizado de que o período de taxas excessivamente baixas chegou ao fim.

A redução da demanda levou os bancos a exercerem cada vez mais a garantia firme, adicionando as operações às suas carteiras. Agora, esses bancos estariam oferecendo os papéis no mercado secundário com descontos, o que pode representar uma oportunidade para gestores mais conservadores ou para fundos com disponibilidade de caixa.

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Caso ocorram resgates significativos, forçando a venda de papéis com desconto, gestores com alocações mais conservadoras ou com caixa disponível para investir poderão encontrar oportunidades.

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