Banco do Brasil endurece com produtores rurais em recuperação judicial

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O Banco do Brasil (BBAS3), principal financiador do agronegócio no país, sinaliza uma postura mais rigorosa em relação aos produtores rurais que buscam recuperação judicial. A instituição financeira ameaça suspender a concessão de novos créditos para aqueles que recorrerem a esse mecanismo, em meio a um cenário de aumento da inadimplência no setor.

De acordo com declarações de um diretor do Banco do Brasil, a recuperação judicial seria vista como um obstáculo para o produtor, restringindo seu acesso a crédito e, consequentemente, sua capacidade de investimento nas próximas safras.

Além da ameaça de suspensão de crédito, o banco tem adotado uma abordagem mais cautelosa na análise e negociação de dívidas, exigindo prazos de pagamento mais curtos e garantias mais robustas. Essa mudança de postura ocorre após decisões judiciais que permitiram que produtores individuais buscassem proteção contra credores e após ajustes contábeis que impactaram o lucro do banco no segundo trimestre.

Dados internos do Banco do Brasil revelam que cerca de R$ 5,4 bilhões em empréstimos estão em situação de inadimplência, devido a pedidos de recuperação judicial de 808 produtores rurais. Esse número representa uma parcela significativa em relação à sua carteira de crédito para o setor agropecuário, que totalizava R$ 404,9 bilhões em junho, abrangendo um universo de 1 milhão de clientes.

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A instituição financeira observa uma mudança no comportamento dos produtores, com um aumento considerável no número daqueles que se encontram em situação de inadimplência pela primeira vez. Paralelamente, a taxa de inadimplência da carteira rural como um todo registrou um aumento, atingindo 3,5% em junho.

O aumento das provisões para perdas com crédito impactou o retorno sobre o patrimônio líquido do banco, que apresentou uma queda significativa no mesmo período. Essa redução no lucro é um reflexo das dificuldades enfrentadas por produtores e instituições financeiras no setor agrícola.

Analistas do mercado financeiro apontam que o Banco do Brasil tem apresentado um desempenho inferior em comparação com outros grandes bancos do país, e essa tendência pode se manter. A expectativa é que o balanço do terceiro trimestre reflita os desafios enfrentados no agronegócio.

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Embora o governo tenha lançado um programa de renegociação de dívidas, ainda não se espera um impacto imediato nos resultados do banco, uma vez que a adesão a esse programa é recente. No entanto, a reação dos clientes a essa iniciativa será um indicador importante a ser monitorado.

Historicamente, os produtores rurais priorizavam o pagamento ao Banco do Brasil, considerando-o um parceiro de longo prazo e um importante financiador do setor. No entanto, o cenário mudou com a entrada de novos financiadores, como os Fiagros, que superalavancaram o segmento. A combinação da queda nos preços das commodities, o aumento das taxas de juros e o impacto de eventos climáticos adversos resultou em um aumento da inadimplência e em uma mudança nas prioridades dos produtores.

Diante dessa nova realidade, o Banco do Brasil busca se adaptar, exigindo garantias mais sólidas, como a alienação fiduciária, que confere ao credor a propriedade do bem até a quitação da dívida. Essa medida, embora proporcione maior segurança para o banco, eleva o custo do crédito para os produtores.

Além disso, o banco tem adotado medidas como a redução do prazo para contato com o produtor em caso de atraso no pagamento e a utilização de inteligência artificial para classificar clientes e identificar oportunidades de renegociação ou suspensão de crédito.

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Apesar dessas mudanças, o Banco do Brasil reforça seu compromisso com a negociação de dívidas, buscando soluções para evitar a inadimplência, desde que o produtor não recorra à recuperação judicial.

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