Belém: países se unem para quadruplicar produção de biocombustíveis até 2035
BELÉM (PA) — Em um movimento paralelo às negociações climáticas globais, um grupo de 25 nações firmou um compromisso ousado durante a COP30, visando quadruplicar a produção e o uso de combustíveis renováveis na próxima década. A iniciativa, batizada de Compromisso de Belém ou Belém 4x, surge em um momento crucial, enquanto discussões sobre a eliminação gradual de combustíveis fósseis enfrentam obstáculos.
O acordo tem como base um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), encomendado pela presidência da COP, que explora caminhos para garantir o fornecimento de combustíveis sustentáveis até 2035. A meta inicial é ambiciosa: dobrar o consumo mundial de biocombustíveis nos próximos cinco anos, impulsionada pela expansão da oferta de biocombustíveis líquidos.
Evandro Gussi, presidente da Unica, associação que representa os produtores de etanol, destaca a capacidade do setor de etanol em atender às demandas projetadas pela IEA para a participação de biocombustíveis líquidos na matriz energética. Ele enfatiza a tradição do setor em responder prontamente às necessidades do mercado.
A IEA reconhece que o objetivo de quadruplicar o uso de biocombustíveis é desafiador, mas factível. A agência aponta que a demanda global por combustíveis líquidos e gasosos sustentáveis já dobrou entre 2010 e 2024. No entanto, políticas eficazes são cruciais para acelerar esse crescimento.
O relatório da IEA ressalta que a implementação completa de políticas e metas existentes, juntamente com a remoção de barreiras de mercado, pode levar a um aumento significativo no uso de combustíveis sustentáveis em um curto período, atraindo investimentos em capacidade de produção adicional.
Para alcançar as metas estabelecidas, é fundamental que os países endossem o compromisso e aloquem recursos financeiros. Uma demanda firme estimula o investimento do setor privado, o que, a longo prazo, pode reduzir os custos dos biocombustíveis, atualmente mais elevados do que os combustíveis fósseis.
No Brasil, a Lei Combustível do Futuro visa fornecer previsibilidade ao setor. Além disso, o financiamento com recursos públicos, como o Fundo Clima e a Finep, tem impulsionado a expansão recente. Entre 2023 e 2025, o montante destinado a projetos de combustíveis renováveis atingiu R$ 11,7 bilhões.
Rafael Abud, CEO da FS, empresa de etanol de milho, enfatiza a importância de políticas públicas robustas e financiamentos de longo prazo para sustentar o ciclo de investimentos no setor, gerando desenvolvimento econômico e social.
A IEA estima que a oferta de biocombustíveis líquidos precisará aumentar em aproximadamente 3 hexajoules de energia equivalente nos próximos cinco anos, o que corresponde a cerca de 140 bilhões de litros de etanol. Entre 2030 e 2035, mais 2 hexajoules (96 bilhões de litros) precisariam ser adicionados à oferta.
Entre os países que aderiram ao Compromisso de Belém, estão Japão, Canadá, Holanda, Índia e Itália. O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, destaca a importância dos combustíveis sustentáveis para a transição energética e a luta contra as mudanças climáticas.
Gussi acredita que mais países se juntarão ao Compromisso, mesmo após o final da COP de Belém. Ele ressalta que o pledge continuará em vigência e aberto a novas adesões, uma vez que outras rotas de transição energética dependem de altos investimentos em infraestrutura ou pesquisa e desenvolvimento.



