Brasil e argentina: rivalidade no agro, aliança na indústria
A relação entre Brasil e Argentina no cenário econômico é complexa, marcada por uma dualidade de competição e cooperação. No agronegócio, os dois países são concorrentes diretos, disputando mercados globais de grãos, carnes e derivados, como China, Europa e Oriente Médio. Ambos enfrentam os desafios das flutuações nos preços das commodities. No entanto, um aspecto estratégico frequentemente negligenciado é que a Argentina se destaca como o principal comprador de produtos industriais brasileiros.
Essa dinâmica revela que, embora rivais no setor agrícola, Brasil e Argentina são aliados naturais no âmbito industrial. Essa interdependência econômica explica por que o sucesso da Argentina é intrinsecamente ligado ao bem-estar da economia brasileira.
Em 2024, o Brasil já exportou para a Argentina mais de US$ 2,5 bilhões em veículos, além de milhares de toneladas de autopeças e produtos químicos. Essas exportações de alto valor agregado desempenham um papel crucial na sustentação de empregos nas indústrias brasileiras. A instabilidade econômica na Argentina pode levar a uma queda nessas exportações, afetando diretamente a atividade industrial nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Atualmente, o governo argentino está implementando um plano de recuperação econômica que envolve corte de gastos, equilíbrio orçamentário e controle da inflação. Os primeiros resultados são promissores, com o país registrando superávit fiscal pela primeira vez em 14 anos e uma desaceleração na inflação mensal. A consolidação dessas medidas de ajuste pode impulsionar o consumo interno na Argentina, aumentando a demanda por produtos brasileiros.
No contexto do agronegócio, uma Argentina estável não necessariamente representa uma ameaça. Uma competição saudável é preferível a um colapso econômico no país vizinho. Quando a Argentina enfrenta dificuldades financeiras, o Mercosul se enfraquece, o comércio regional perde força e o Brasil se vê isolado em meio a potências comerciais como Estados Unidos, China e União Europeia.
O desafio reside em equilibrar os papéis de competidor no campo e cooperador na indústria. O Brasil deve manter acordos automotivos, garantir crédito para as exportações e facilitar o comércio de bens industriais, sem abrir mão da disputa por mercados agrícolas com eficiência e tecnologia.
Em última análise, o sucesso da Argentina pode trazer mais estabilidade política e comercial para todo o Cone Sul. A economia é um jogo de soma variável, no qual a melhora do vizinho contribui para o fortalecimento de todo o Mercosul. A competição não deve ser confundida com torcer contra, pois o crescimento de um país pode impulsionar o desenvolvimento de toda a região.



