Brasil impulsiona agricultura tropical sustentável na cop, mas busca financiamento
A COP30, realizada em Belém, no coração da Amazônia brasileira, encerrou-se no último domingo, marcando um novo capítulo para o agronegócio, ao mesmo tempo que estabelece desafios futuros. O evento consolidou a agricultura tropical como um tema central na agenda climática global. O próximo passo crucial é responder ao escrutínio internacional com dados robustos e criar projetos capazes de atrair investimentos para a agricultura de baixo carbono.
Através da Agrizone, uma plataforma de demonstração de tecnologias desenvolvidas para a agricultura tropical apresentada pela Embrapa, o Brasil destacou suas iniciativas para mitigar as mudanças climáticas e reduzir a pegada de carbono do setor. O desafio atual reside em manter a agricultura tropical em destaque como parte da solução climática.
Marcelo Morandi, assessor de relações internacionais da Embrapa, enfatizou a importância de apresentar dados, ciência e resultados concretos. “Precisamos mostrar dados, ciência, execução. Essa é a batalha que precisamos enfrentar. Sim, reconhecemos os problemas que temos, mas também estamos mostrando como os estamos superando”, afirmou.
Ana Carolina Zimmermann, produtora de grãos e pecuarista em Goiás, celebrou o espaço que a agricultura conquistou na COP30. “Se você não está à mesa, você está no cardápio. Então, é melhor nos certificarmos de que estamos nas mesas certas, ajudando a escolher as decisões que queremos”, declarou Zimmermann, que participou da cúpula.
Eduardo Bastos, CEO do Instituto Equilíbrio, um think tank independente focado no agronegócio, também elogiou a visibilidade que a agricultura brasileira obteve na conferência, ao mesmo tempo em que destacou os próximos obstáculos na obtenção de financiamento para projetos de baixo carbono.
“O setor de proteção e restauração florestal se organizou melhor para a COP30, contou uma história mais forte e ocupou espaços mais influentes. Eles garantiram o TFFF — o novo fundo para conservar florestas tropicais — o que é ótimo e extremamente importante. Criamos algo semelhante, uma iniciativa chamada RAIZ, e lançá-la foi uma grande vitória. Mas a resposta financeira não foi a mesma”, disse Bastos.
A RAIZ, lançada durante a cúpula, busca captar capital privado para restaurar terras agrícolas degradadas. Inspirada em programas brasileiros que mobilizaram quase US$ 6 bilhões para restaurar até 3 milhões de hectares, a RAIZ ajudará os países a identificar paisagens prioritárias e a projetar soluções de financiamento misto para ampliar a restauração e proteger as florestas.
Dez países anunciaram apoio à RAIZ, mas não foram feitos compromissos de financiamento — ao contrário do TFFF, que arrecadou US$ 6,7 bilhões em sua primeira fase.
“Isso significa que a agricultura é mais ou menos importante? Não. Significa que não fomos capazes de contar uma história tão poderosa quanto a do setor florestal”, disse Bastos. “Agora temos uma enorme oportunidade de construir essa narrativa antes da próxima COP e arrecadar somas igualmente grandes no próximo ano.”
Para atrair investidores — que no espaço da sustentabilidade normalmente emitem cheques de mais de US$ 500 milhões — o setor precisará se organizar e desenvolver projetos mais ambiciosos, ao mesmo tempo em que aborda questões básicas, como a regularização fundiária. Avançar na implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um desses passos, observou Guilherme Bastos, coordenador da FGV Agro.
Ele também destacou a necessidade de mais dados oficiais sobre as práticas sustentáveis adotadas no Brasil nos últimos anos, o que daria aos investidores maior confiança.
“Precisamos usar este destaque — e a presidência estendida do Brasil na COP até novembro do próximo ano — para desbloquear pelo menos parte deste capital e direcioná-lo para soluções climáticas impulsionadas pela agricultura”, disse Morandi.



