Brasil inclui tilápia em lista de invasoras e gera debate no setor

Atualização da lista de espécies invasoras coloca tilápia em debate entre meio ambiente e setor produtivo, gerando atenção nacional.

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O Brasil atualizou sua lista de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais, totalizando 290 espécies. Desse número, 162 são da flora e 128 da fauna, presentes em 248 das 343 unidades de conservação federais do país.

Dentro desse levantamento, os peixes se destacam como o grupo mais expressivo entre as espécies invasoras, somando 60 registros. As tilápias Oreochromis niloticus e Coptodon rendalli, originárias da África e introduzidas no Brasil para fins de aquicultura, são apontadas como ameaças em 44 e 50 unidades de conservação, respectivamente.

A polêmica ganhou força após a Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), ligada ao Ministério do Meio Ambiente, propor, no início de outubro, a inclusão da tilápia na lista nacional de espécies exóticas invasoras. A votação da proposta está agendada para uma reunião da Conabio, em novembro.

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Em 2024, a produção brasileira de tilápia alcançou 662.230 toneladas, representando 68% de toda a produção nacional de peixes cultivados. A espécie se consolidou como um dos pilares da piscicultura nacional, com mais de meio século de cultivo no país.

Especialistas e órgãos ambientais justificam a classificação da tilápia como espécie exótica invasora devido ao seu potencial de causar impactos negativos à biodiversidade nativa. Há registros de escapes para rios e represas, onde a espécie compete por alimento, preda ovos e larvas de peixes nativos e altera o equilíbrio ecológico. A tilápia-do-nilo, em particular, se destaca pela tolerância a variações de temperatura, adaptabilidade a diversos ambientes aquáticos e hábitos alimentares generalistas, além de apresentar alta taxa de sobrevivência de filhotes devido ao cuidado parental.

A proposta gerou forte reação por parte do setor produtivo. O Paraná, responsável por 36% da produção nacional de tilápias e 25% da produção total de peixes no país, expressou preocupação com os impactos na cadeia produtiva, que envolve ração, frigoríficos, transporte e comércio, além de gerar milhares de empregos diretos e indiretos no estado.

O Ministério do Meio Ambiente esclareceu que a lista ainda está em análise e que eventuais medidas e salvaguardas serão definidas futuramente. A pasta enfatizou que a inclusão de uma espécie na lista tem caráter técnico e preventivo, não implicando automaticamente em banimento ou proibição de uso ou cultivo, reconhecendo a relevância econômica da tilápia e o cultivo já consolidado no território nacional.

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A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) também se manifestou, demonstrando preocupação diante de decisões recentes que impactam o setor produtivo, como a liberação da importação de tilápia do Vietnã e o aumento tarifário imposto pelos Estados Unidos à tilápia brasileira. A associação contesta a proposta do MMA de classificar a tilápia como invasora, alegando falta de debate técnico amplo e de estudos atualizados e imparciais. A Peixe BR defende que a ciência deve andar junto com a realidade social e econômica brasileira, assegurando a sustentabilidade ambiental sem comprometer o desenvolvimento produtivo.

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