Cacau sob ataque: praga devastou a bahia e reacende alerta fitossanitário

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A vassoura-de-bruxa, que assolou a Bahia em 1989, provocou uma crise econômica sem precedentes na produção de cacau, alterando drasticamente o cenário cacaueiro brasileiro. A experiência amarga serviu de aprendizado e acendeu um alerta para a necessidade de medidas preventivas rigorosas contra novas pragas quarentenárias, como a monilíase, que ameaçam a produção nacional.

A chegada da vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, representou um golpe duro para a região sul da Bahia, outrora um polo produtor de cacau de destaque mundial. O fungo ataca brotações, flores e frutos, causando deformações e secas que transformam os ramos em estruturas semelhantes a vassouras, daí o nome popular da doença. A disseminação dos esporos, facilitada pelo clima quente e úmido, pode levar à queda drástica da produção em poucos anos, caso não haja um manejo adequado.

Estudos genéticos apontam para múltiplos focos primários da doença na região, sugerindo que a entrada do fungo ocorreu por meio da ação humana, através do transporte de material vegetal infectado, frutos, ferramentas ou mesmo pessoas entre áreas contaminadas e sadias. A crise evidenciou a importância da sanidade vegetal e redesenhou o mapa do cacau no país, impulsionando o desenvolvimento de sistemas agroflorestais mais tecnificados e o cultivo em novas regiões.

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Atualmente, a maior ameaça para a produção cacaueira brasileira é a monilíase, causada pelo fungo Moniliophthora roreri. Essa praga quarentenária ausente, que ataca exclusivamente os frutos e pode causar perdas entre 30% e 100%, é monitorada de perto pelo Ministério da Agricultura, que implementou um plano nacional e protocolos de biossegurança para evitar sua entrada e disseminação no país.

A experiência com a vassoura-de-bruxa reforçou a importância de medidas preventivas cotidianas, como a proibição do transporte de mudas, estacas ou frutos sem certificação, a higienização de equipamentos e veículos antes de entrar em áreas de cultivo, a restrição de visitas a lavouras em caso de suspeita de doença e a comunicação imediata às autoridades fitossanitárias em caso de sintomas novos.

A recuperação da produção de cacau na Bahia tem sido um processo contínuo, baseado em um manejo integrado que envolve a poda sanitária frequente, a coleta de frutos doentes, o uso criterioso de fungicidas e o controle biológico com Trichoderma stromaticum. A Ceplac também tem trabalhado no melhoramento genético, recomendando clones mais tolerantes à vassoura-de-bruxa, como PH-16, PS-1319, CCN-51, Cepec 2002 e SJ-02, com a recomendação de diversificar os materiais para evitar a adaptação do fungo.

O desafio agora é aumentar a produtividade sem comprometer a biodiversidade e o sistema de cultivo sombreado, mantendo um monitoramento constante da doença, que pode se agravar em anos mais úmidos. A lição aprendida com a vassoura-de-bruxa é clara: a combinação de ciência no manejo e rigor nas medidas de quarentena é fundamental para garantir a prosperidade do cacau brasileiro e evitar a repetição do trauma de 1989.

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Fonte: www.tempo.com

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