Cientistas descobrem como fortalecer defesas naturais das plantações

Estudos revelam como patógenos desativam defesas das plantas e apontam caminhos genéticos para lavouras mais resistentes e seguras frente às mudanças climáticas.

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Pesquisadores ao redor do mundo deram um importante passo para proteger as plantações e garantir a segurança alimentar global. Dois estudos recentes revelaram de forma inédita como certos patógenos conseguem driblar o sistema de defesa das plantas e apresentaram soluções de engenharia genética que podem ajudar os agricultores a enfrentar doenças cada vez mais agressivas, agravadas pelas mudanças climáticas.

Um dos estudos, publicado na revista Nature Communications, mostrou como o Phytophthora infestans, fungo responsável pela grande fome da Irlanda, atua de forma silenciosa antes de atacar as plantações. Liderado pela Universidade de York, em parceria com o The James Hutton Institute e a Université Libre de Bruxelles, o grupo descobriu que o patógeno utiliza enzimas chamadas oxidases AA7 para neutralizar os sinais de alerta das plantas, impedindo que elas ativem suas defesas a tempo. “É como se o invasor cortasse o fio do alarme antes de entrar”, explicou o pesquisador Dr. Federico Sabbadin, um dos autores do estudo.

Os cientistas também observaram que, ao desativar os genes responsáveis por essas oxidases, o fungo perde completamente a capacidade de infectar as plantas. Essa constatação abre caminho para novas formas de engenharia genética capazes de desenvolver culturas mais resistentes, especialmente de batata e tomate, que estão entre as mais afetadas por esse tipo de infecção.

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Enquanto isso, no Japão, outro grupo de pesquisadores do Centro de Ciência de Recursos Sustentáveis do RIKEN apresentou uma abordagem complementar, publicada na Science. Eles conseguiram engenheirar receptores imunológicos sintéticos, capazes de reconhecer múltiplos patógenos ao mesmo tempo. Essa tecnologia utiliza uma proteína ancestral chamada SCORE, que detecta sinais presentes em mais de 85% das bactérias conhecidas, além de fungos e insetos. O objetivo agora é introduzir essas variantes modificadas da proteína em espécies agrícolas importantes, oferecendo resistência de amplo espectro a doenças e pragas.

Esses resultados chegam em um momento crítico. O aquecimento global tem criado condições mais favoráveis para o surgimento de pragas e doenças, ao mesmo tempo em que enfraquece as práticas agrícolas tradicionais. Com as plantações sob estresse constante, a ciência se torna essencial para garantir o futuro da alimentação mundial. Segundo Stephen Whisson, do The James Hutton Institute, as descobertas recentes representam “uma oportunidade única de criar defesas naturais e duradouras, sem depender tanto de produtos químicos”.

Em conjunto, as pesquisas oferecem esperança real para o futuro da agricultura. Com o avanço da edição genética e o uso de ferramentas como o CRISPR, as lavouras poderão resistir tanto aos patógenos atuais quanto às ameaças futuras, reduzindo perdas e preservando o equilíbrio ambiental.

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