Cinema revela olhares através de três gerações

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Nos cinemas, uma história cativante emerge com o lançamento de “A Natureza das Coisas Invisíveis”, o primeiro longa-metragem de Rafaela Camelo, que conquistou prêmios no Mix Brasil e em diversos festivais internacionais.

A trama, ambientada em Brasília, acompanha a vida de duas jovens, Glória e Sofia, que se conhecem em um hospital. Glória, com cerca de oito ou dez anos, é filha de Antônia, uma enfermeira que a leva para o trabalho, onde a menina cria laços com pacientes idosos. Sofia chega ao hospital com sua mãe para internar sua bisavó, que sofreu uma queda e apresenta sinais de confusão mental.

A narrativa se desdobra em duas partes distintas. A primeira apresenta Glória em seu cotidiano, entre a escola, o lar e o hospital onde sua mãe trabalha. Na segunda parte, Antônia aproveita as férias para levar Glória ao sítio onde Sofia vive com sua mãe e bisavó.

O filme explora a interação entre três diferentes formas de perceber o mundo: a das crianças, a de suas mães e a dos idosos. Através da troca de perspectivas sobre a vida e a morte, o filme revela delicadeza, originalidade e força.

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Logo após os créditos iniciais, a narrativa introduz um elemento de mistério: Glória, no banheiro da escola, vê a imagem de um porco vivo através da fresta da porta de um dos cubículos. A imagem só encontra sentido quando é revelado que a menina passou por um transplante de coração e se questiona sobre a identidade do doador.

Sofia também carrega seus próprios segredos. A amizade entre as meninas é permeada por revelações surpreendentes e delicadas.

A poesia do filme reside na ideia de que a fantasia molda a realidade. As crianças conversam com bonecos, criam amigos imaginários e transformam objetos comuns em ferramentas extraordinárias. A bisavó de Sofia revive o passado, interagindo com pessoas ausentes e mortos.

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“A Natureza das Coisas Invisíveis” transcende a definição de um simples “romance de formação”, convidando as mães a aprender com suas filhas e com os idosos, a enxergar além da realidade cotidiana e a contemplar o invisível. A magia do cinema reside em sua capacidade de materializar a imaginação.

O filme se destaca por seu roteiro engenhoso, sua direção precisa e um elenco de primeira linha, com atuações notáveis das duas jovens protagonistas.

Outro lançamento nos cinemas é o documentário “Guarde o Coração na Palma da Mão e Caminhe”, dirigido por Sepideh Farsi, que retrata a realidade em Gaza. Impedida de entrar na região, a diretora estabelece contato com Fatma Hassouna, uma jovem fotógrafa palestina que documenta a vida na região.

O documentário se desenvolve através das conversas entre as duas mulheres, nas quais Fatma compartilha imagens de sua casa, dos abrigos, da fumaça das bombas, além de relatar a escassez de alimentos e as perdas de familiares e amigos.

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Um vínculo afetivo se forma entre Sepideh e Fatma. Sepideh compartilha suas experiências de viagens pelo mundo e a impossibilidade de retornar ao Irã. Em um dos últimos contatos, Sepideh informa Fatma que o documentário será exibido no Festival de Cannes.

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