Crise na abcripto: presidente processa conselheiros em disputa pelo poder
A Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto) enfrenta uma crise interna que agora se intensifica nos tribunais. Bernardo Srur, o atual presidente, move uma ação judicial contra quatro membros do Conselho Administrativo da entidade, escalando um conflito que pairava nos bastidores.
No centro da disputa está a tentativa de André Portilho (Mynt/BTG Pactual), Maria Isabel Sica (Ripple), Renata Mancini (Ripio) e Daniel de Paiva Gomes (Paiva Gomes Consultoria LTDA) de convocar uma assembleia para discutir a eleição de um novo presidente. Srur, cujo mandato se encerra em dezembro de 2025, seria automaticamente reconduzido ao cargo por mais um ano caso uma nova eleição não fosse realizada.
A ação movida por Srur busca impedir a assembleia e, mais drasticamente, solicita que o juiz determine que as empresas representadas pelos quatro conselheiros os substituam. Caso contrário, pede a exclusão dessas empresas do conselho.
O processo judicial, aberto no início de novembro, busca invalidar uma reunião de conselheiros ocorrida em outubro, onde a convocação da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) foi solicitada. Srur alega que foi “abruptamente interrompido” durante essa reunião e que uma reunião paralela foi organizada sem a participação da Diretoria Executiva.
Em resposta, os conselheiros processados apresentaram uma defesa de quase 200 páginas, contestando as alegações de Srur como “infundadas, destituídas de provas e totalmente desconectadas da realidade”. Eles argumentam que propuseram uma transição pacífica desde julho, buscando negociar a vacância do cargo, mas que suas tentativas foram rejeitadas por Srur.
A defesa dos conselheiros destaca que a reunião de outubro não deliberou sobre a destituição do presidente, reconhecendo que apenas a Assembleia Geral tem esse poder. O objetivo da solicitação da assembleia seria permitir que todos os associados participassem da eleição e substituição do Diretor-Presidente ao final de seu mandato.
Os conselheiros também criticam o uso da associação para fins pessoais por parte de Srur ao abrir o processo, bem como a inclusão dos quatro conselheiros como pessoas físicas na ação. Alegam que o presidente busca usar o processo como um “exemplo” para outros conselheiros, a fim de impedir questionamentos sobre a proximidade do término de seu mandato e a falta de prestação de contas.
A contestação dos conselheiros revela que, desde julho, eles vêm solicitando acesso a informações financeiras, bancárias e documentos da associação, mas que Srur tem dificultado o acesso. Eles também apontam que a associação está irregular perante a Receita Federal desde maio, sem que os associados saibam o motivo.
Adicionalmente, a defesa do Conselho Administrativo levanta preocupações sobre um acordo com o Ministério Público, problemas com a Receita Federal, contas bancárias fechadas, um pagamento de R$ 250 mil para o sandbox da CVM sem aprovação do Conselho e falta de clareza sobre um projeto chamado “CriptoJud”.
Diante do impasse, a ABcripto, por meio de Srur, busca a anulação da reunião de outubro e da convocação da AGE, bem como a exclusão dos associados envolvidos. Já a defesa dos diretores processados exige a prestação de contas, a convocação imediata da Assembleia Geral para deliberar sobre a eleição ou destituição do Diretor-Presidente, e uma retratação pública por parte de Srur.


