Descoberta sobre o corte da vespa-serra pode transformar cirurgias humanas

Estudo sobre o corte da vespa-serra pode inspirar novas ferramentas cirúrgicas capazes de realizar incisões mais precisas e seguras, sem danificar tecidos saudáveis.

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Pesquisadores da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, revelaram um mecanismo biológico surpreendente que pode revolucionar o design de ferramentas cirúrgicas. O estudo, publicado na revista científica Bioinspiration & Biomimetics, mostra como o corte da vespa-serra — um inseto que lembra uma pequena vespa — pode inspirar instrumentos médicos capazes de realizar incisões mais precisas e seguras.

Um corte natural que “pensa sozinho”

A equipe liderada pelo Dr. Martí Verdaguer Mallorquí descobriu que o órgão de postura das fêmeas, chamado ovipositor, funciona como uma microserra biológica. Esse mecanismo realiza cortes alternados e automáticos, distinguindo de forma natural quais materiais cortar e quais evitar — sem necessidade de sensores ou controle computadorizado.

Na natureza, a vespa-serra perfura plantas para depositar seus ovos, cortando apenas tecidos vegetais macios e preservando as estruturas internas, o que permite que a planta continue viva e alimente as larvas. Segundo o Dr. Verdaguer, trata-se de “um sistema de corte que, essencialmente, pensa por si só”.

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Testes e resultados promissores

Os cientistas ampliaram o ovipositor em 400 vezes e o testaram em materiais que imitam tecidos humanos. Eles identificaram que o corte depende de um “limite final de tensão”: materiais abaixo desse limite são cortados de maneira limpa, enquanto os mais resistentes são apenas deslocados, sem danos.

Duas espécies foram estudadas em detalhes — Rhogogaster scalaris e Hoplocampa brevis. Por meio de microscopia eletrônica e imagens 3D, a equipe mapeou a geometria dos dentes da serra. As pequenas serrilhas e saliências maiores trabalham juntas, criando uma ação seletiva de corte adaptada a diferentes camadas de tecido.

Solução para desafios cirúrgicos

Durante entrevistas com cirurgiões, os pesquisadores identificaram problemas recorrentes nas operações:

  • 86% relataram perda de visibilidade devido ao acúmulo de sangue;
  • 80% apontaram risco de danos acidentais a tecidos;
  • 57% pediram ferramentas mais precisas e inteligentes.

O professor Marc Desmulliez, coautor do estudo, destacou que um instrumento cirúrgico inspirado nesse mecanismo natural poderia evitar tecidos críticos automaticamente, permitindo incisões exatas mesmo em ambientes com pouca visibilidade — algo especialmente útil em neurocirurgias.

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Com mais de 8.000 espécies de vespas-serra existentes, os cientistas acreditam que há um vasto campo de soluções bioinspiradas a explorar. A descoberta reforça o potencial da biomimética em trazer inovações seguras e eficazes à medicina moderna.

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