Direita busca novo rumo após prisão de bolsonaro

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A prisão preventiva de Jair Bolsonaro lançou incertezas sobre o futuro do campo da direita e extrema direita no Brasil. A medida cautelar contra o ex-presidente, somada ao enfraquecimento da pauta da anistia no Congresso, pode tornar qualquer associação ao seu nome um obstáculo para futuras candidaturas, especialmente em disputas acirradas para o governo de estado, Senado e Presidência da República.

Governadores com aspirações presidenciais como Ratinho Jr. (PR), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO) e Tarcísio de Freitas (SP) manifestaram solidariedade a Bolsonaro após sua prisão. No entanto, após a divulgação de um vídeo onde o ex-presidente aparece admitindo ter danificado sua tornozeleira eletrônica, nenhum deles se manifestou sobre o assunto.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, tentou atenuar o impacto da prisão de Bolsonaro, divulgando nos meios de comunicação uma suposta articulação para transformar a prisão preventiva em domiciliar. Essa manobra é vista como uma tentativa de conciliar o apoio do eleitorado bolsonarista com uma imagem de moderação para atrair eleitores menos radicais.

Apesar de alguns analistas acreditarem que a prisão de Bolsonaro fortalece o nome de Tarcísio para 2026, o lançamento de um candidato com o sobrenome Bolsonaro pode inviabilizar a candidatura do governador paulista. O próprio Tarcísio já declarou que não concorreria à presidência sem o aval do ex-presidente, de quem depende por ainda não ter se estabelecido como uma liderança nacional.

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Com a prisão e a controvérsia da tornozeleira, Bolsonaro pode ser forçado a lançar um membro de sua família na corrida presidencial, buscando preservar seu capital político. Esse cenário abriria espaço para outros candidatos da direita que não contavam com o apoio do ex-presidente.

Diante desse quadro, o cientista político Antonio Lavareda vislumbra a possibilidade de três ou quatro candidaturas competitivas nesse espectro político. Um cenário semelhante ocorreu nas eleições do Chile, onde várias candidaturas de direita disputaram o eleitorado, culminando com a ida de José Antonio Kast para o segundo turno.

No entanto, a alta rejeição a Bolsonaro pode ser um fator decisivo para as eleições de 2026. Pesquisas indicam que a associação com o ex-presidente pode prejudicar candidaturas, afastando uma parcela significativa do eleitorado.

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Especialistas apontam que a direita deve se preparar para uma disputa sem o aval de Bolsonaro, evitando repetir a polarização de 2022, o que poderia favorecer uma vitória do atual governo já no primeiro turno.

Diante da prisão do ex-presidente, sua base política no Congresso também pode reavaliar suas estratégias. A possibilidade de retomar o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, que poderia beneficiar Bolsonaro, está em discussão.

Ainda sem uma estratégia clara, a base extremista parece ter aprendido o que não fazer. A convocação de protestos por parte de lideranças bolsonaristas foi rapidamente desmobilizada, buscando evitar problemas judiciais.

Os parlamentares da direita estão atentos às eleições de 2026 e buscam evitar ações que possam inviabilizar suas candidaturas ou afastar eleitores de centro e de uma direita mais moderada.

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Analistas políticos apontam que uma radicalização do bolsonarismo pode afastar setores da direita que buscam se manter relevantes no cenário político-eleitoral. A “martirização” de Bolsonaro, sem radicalização, pode ser o caminho para manter a direita unida nas próximas eleições.

O cenário para a direita nas próximas eleições presidenciais é de fragmentação, tanto no número de candidatos quanto na postura em relação a Bolsonaro. A tentativa de preservar a imagem do ex-presidente por meio da “martirização” será determinante para as pretensões políticas em 2026.

A fragilidade da direita pode abrir espaço para o avanço da esquerda, com o governo tendo a oportunidade de pautar debates importantes. No entanto, o campo progressista precisa se manter mobilizado, aproveitando o momento para fortalecer suas bases e apresentar propostas concretas para o país.

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