Empresas se arriscam com ipca+ sem proteção, adverte gestor

Empresas no mercado financeiro têm adotado uma estratégia que levanta questionamentos sobre os riscos envolvidos. André Lion, sócio, CIO e gestor de ações da Ibiúna, destacou um movimento crescente de empresas que optam por emitir dívidas atreladas ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acrescido de um spread fixo. Apesar do potencial de ganhos, essa prática pode expor as empresas a riscos consideráveis, segundo o especialista.
Lion explicou que a estratégia de indexar a dívida ao IPCA mais um percentual fixo pode parecer vantajosa em um primeiro momento. “O IPCA+6, por exemplo, é uma sacada boa. Se o IPCA ficar em 5%, o custo é 11% — melhor que os 15% da Selic”, comentou, referindo-se à taxa básica de juros da economia.
O ponto crítico, de acordo com o gestor, reside na ausência de mecanismos de proteção (hedge) por parte de muitas dessas empresas. “Elas ficam expostas. Se a inflação acelerar, o custo explode. É um risco, mas quem acertar, acerta grande”, alertou. Essa falta de proteção pode transformar uma estratégia inicialmente lucrativa em um fardo financeiro pesado caso a inflação suba inesperadamente.
Para Lion, essa movimentação representa uma aposta no timing do mercado e na habilidade de gerenciar passivos. Empresas que conseguirem se beneficiar da queda nas taxas de juros para estabelecer contratos favoráveis poderão se destacar quando o cenário econômico se estabilizar.
A Ibiúna, por sua vez, tem adotado uma postura cautelosa. O fundo Ibiúna Equities, com foco em ações, mantém até 10% de sua carteira em caixa e se concentra em ações específicas. Já o fundo Long Bias opera com mais flexibilidade, ajustando suas posições conforme as mudanças no cenário macroeconômico.
“Quando o cenário fica incerto, a gente reduz risco. Quando clareia, voltamos a aumentar exposição”, explicou Lion. Segundo ele, a gestora começou 2025 com uma abordagem mais defensiva, mas aumentou gradualmente sua exposição à bolsa de valores à medida que a incerteza diminuiu.
O fundo Long Short da Ibiúna, que busca retornos independentemente do desempenho da bolsa, tem se beneficiado das recentes mudanças na metodologia do Ibovespa e da melhoria no mercado de aluguel de ações. “O mercado de aluguel melhorou, e isso permite uma gestão mais ativa. Hoje, nosso gross varia entre 150% e 180%, sempre com net zero”, detalhou Lion. Esse fundo acumula um ganho de 25% no ano.
Diante de um mercado oscilante, Lion ressaltou que a Ibiúna está atenta às oportunidades em cada empresa. “A gente está sempre debatendo tese, reavaliando, ajustando. Todo dia nos perguntamos se o rally continua ou não. O mercado está muito dinâmico”, concluiu.




