Exportações de café brasileiro despencam após tarifas dos EUA
Tarifas impostas pelos EUA derrubam exportações de café brasileiro em mais de 50%, afetando produtores e abrindo disputa por novos mercados.

As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros estão provocando um efeito devastador no setor cafeeiro do país. Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que as exportações de café para os EUA despencaram 52,8% em setembro de 2025, totalizando 332.831 sacas, um número muito inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior. A medida ameaça a liderança histórica do Brasil no maior mercado consumidor de café do mundo e acende um alerta em toda a cadeia produtiva.
Segundo o Cecafé, em 2024 o Brasil exportou 8,1 milhões de sacas para os Estados Unidos, movimentando US$ 2 bilhões — cerca de 16% de todas as exportações brasileiras de café. Com a nova tarifa, o cenário mudou drasticamente: os EUA deixaram de ser o principal destino e caíram para o terceiro lugar, atrás da Alemanha, que assumiu a liderança.
O diretor-executivo do Cecafé, Marcos Matos, destacou que o impacto é preocupante: “Perder espaço no maior mercado global significa abrir portas para concorrentes. É um prejuízo enorme, principalmente para os produtores de cafés finos”. O setor de cafés especiais foi o mais atingido, com queda de 79,5% nas exportações em agosto, em comparação ao mesmo mês de 2024. Segundo Carmen Lucia Chaves de Brito, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais, “muitos contratos foram suspensos ou cancelados por importadores americanos”.
O efeito também é sentido nos preços internos dos Estados Unidos. As tarifas de Trump elevaram o custo do café em 21% entre agosto de 2024 e agosto de 2025. O preço médio cobrado em cafeterias americanas chegou a US$ 3,52, dez centavos a mais do que no ano anterior. Em algumas regiões, como Nova York, o café brasileiro chega a custar até US$ 24 por libra, refletindo o aumento nas taxas e a queda na oferta.
Para reduzir as perdas, o Brasil tem buscado novos mercados. A Alemanha passou a importar 414 mil sacas em agosto, consolidando-se como o principal destino. China e Austrália também começaram a ampliar suas compras, mostrando potencial para compensar parte da retração americana. No acumulado de janeiro a setembro de 2025, o Brasil exportou 29,1 milhões de sacas, uma queda de 20,5% no volume total, mas com receita 30% maior, impulsionada pela valorização dos preços.
No campo diplomático, o assunto dominou a videoconferência entre os presidentes Lula e Trump, realizada em 6 de outubro. O presidente americano reconheceu que o país “está sentindo falta do café brasileiro”, o que abriu espaço para novas negociações. Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, 8% das exportações afetadas já foram retiradas da lista de produtos tarifados nas últimas semanas. Autoridades dos dois países mantiveram novas conversas em Washington, em busca de um acordo que alivie a pressão sobre o setor.
Enquanto as discussões seguem, produtores e exportadores brasileiros esperam que as tarifas dos EUA sejam revistas o quanto antes, antes que o café brasileiro perca definitivamente espaço no mercado internacional que ajudou a consolidar sua fama.