Farinhas vegetais impulsionam imunidade e sustentabilidade na piscicultura

Pesquisadores brasileiros anunciam uma descoberta com potencial para transformar a nutrição de peixes no Brasil. Estudos conduzidos pela Embrapa Meio Ambiente, em colaboração com a Unicamp e a UFPR, revelam que farinhas produzidas a partir de folhas de amoreira e ora-pro-nóbis podem fortalecer significativamente o sistema imunológico de peixes, além de diminuir a necessidade de ingredientes de origem animal nas rações, como a farinha de peixe e o farelo de soja.
As pesquisas, focadas nas espécies pacu e tilápia-do-Nilo, indicam que a incorporação controlada dessas farinhas nas dietas dos peixes resulta em melhor digestão, aumento da resistência a doenças e um menor impacto ambiental. Este avanço abre caminho para uma aquicultura mais sustentável e economicamente viável.
Um dos principais achados dos estudos é o efeito protetor das farinhas contra doenças. Pacus e tilápias que receberam rações contendo 6% de farinha de amoreira e 32% de ora-pro-nóbis demonstraram uma resposta imunológica superior e uma maior capacidade de resistir à bactéria Aeromonas hydrophila, um agente causador de grandes prejuízos na piscicultura em todo o mundo.
Os resultados práticos impressionam: a taxa de sobrevivência dos pacus expostos à bactéria atingiu a marca de 100%, enquanto nas tilápias alimentadas com a dieta vegetal, a sobrevida foi de 66,7%. Os peixes também apresentaram parâmetros sanguíneos mais estáveis, níveis de estresse reduzidos e uma boa condição física geral, evidenciando os benefícios nutricionais e de saúde proporcionados pelas farinhas.
Além das vantagens na saúde dos peixes, as farinhas de amoreira e ora-pro-nóbis oferecem benefícios nutricionais e econômicos. A farinha de ora-pro-nóbis se destacou pela sua alta digestibilidade proteica (64,9%), enquanto a farinha de amoreira apresentou um melhor aproveitamento dos lipídios (76,7%). Ambas as farinhas mantiveram níveis adequados de energia e aminoácidos essenciais, garantindo uma nutrição completa para os peixes.
O uso dessas plantas representa uma alternativa local e acessível para a formulação de rações, diminuindo a dependência de ingredientes importados e, por vezes, mais caros. Estudos de segurança ambiental demonstraram que as farinhas são “praticamente não tóxicas” para organismos aquáticos, seguindo os padrões estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA).
A possibilidade de cultivar amoreira e ora-pro-nóbis em pequenas propriedades rurais pode contribuir para a redução de custos e o fortalecimento da agricultura familiar, utilizando recursos disponíveis na região. A inclusão dessas farinhas em rações comerciais representa um passo importante na busca por uma piscicultura mais competitiva, sustentável e menos dependente de insumos químicos. Este avanço não só beneficia a saúde dos peixes, mas também promove um modelo de produção mais alinhado com as demandas ambientais e econômicas do país.


