Groenlândia muda de forma à medida que o gelo derretido altera sua base rochosa

Estudo mostra que a Groenlândia está encolhendo e se movendo devido ao gelo derretido, alterando lentamente a forma da ilha e sua base rochosa.

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Uma nova pesquisa revelou que a Groenlândia está passando por transformações geológicas inéditas. A maior ilha do planeta está literalmente encolhendo e se movendo para o noroeste, impulsionada pela perda constante de gelo derretido que está remodelando as rochas profundas sob sua superfície. O fenômeno vem sendo monitorado por cientistas da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) e do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL), que apontam para mudanças sutis, mas de grande impacto, na estrutura da ilha.

Os pesquisadores observaram que o derretimento do gelo vem reduzindo a pressão sobre o solo, fazendo com que a crosta terrestre responda de forma complexa — esticando-se em algumas regiões e comprimindo-se em outras. Segundo o estudo, publicado no Journal of Geophysical Research: Solid Earth, essa movimentação cria um paradoxo geológico: enquanto partes da ilha crescem lateralmente, outras se contraem e diminuem de tamanho. Essa “dança” da terra reflete o delicado equilíbrio entre o derretimento atual e os efeitos remanescentes da última Era do Gelo.

O pesquisador Danjal Longfors Berg, que liderou o estudo, explicou que as mudanças são pequenas em escala anual, mas extremamente significativas a longo prazo. “A Groenlândia está se tornando ligeiramente menor agora, mas com o aumento da taxa de derretimento, esse cenário pode mudar rapidamente”, afirmou. A equipe utilizou 58 estações de GPS estrategicamente espalhadas pela ilha, o que permitiu registrar movimentos horizontais com precisão milimétrica.

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Os dados mais recentes mostram que 2025 será o 29º ano consecutivo em que a camada de gelo perde mais massa do que ganha. Só em 2024, foram 55 bilhões de toneladas de gelo a menos — uma perda menor do que em anos anteriores, mas ainda alarmante. Atualmente, a camada de gelo da Groenlândia perde, em média, 266 bilhões de toneladas por ano, contribuindo diretamente para a elevação do nível do mar. Se todo o gelo derretesse, o nível global subiria cerca de 7,4 metros, o que impactaria milhares de cidades costeiras.

O estudo também reconstruiu o movimento da ilha nos últimos 26 mil anos, desde o auge da última glaciação. Essa análise histórica mostra como os efeitos das mudanças climáticas antigas ainda influenciam a forma e a posição da Groenlândia nos dias atuais. Além das implicações científicas, os deslocamentos contínuos afetam coordenadas GPS e mapas de navegação, essenciais para atividades no Ártico.

Com a aceleração do aquecimento global, os especialistas alertam que essas transformações podem se intensificar nas próximas décadas. O que está acontecendo na Groenlândia é um lembrete de que o planeta responde de maneira profunda e contínua às mudanças climáticas, muito além do que é visível na superfície.

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