IA: hora de provar o valor real após a febre do hype

A febre da inteligência artificial, que nos últimos dois anos permitiu a empresas atrair investimentos apenas mencionando a sigla “IA”, parece ter esfriado. O que antes era visto como garantia de sucesso, hoje exige cautela e resultados concretos.
A mudança de humor do mercado se reflete no desempenho de empresas ligadas ao setor. Dados recentes apontam que ações de companhias com “AI” no nome registraram quedas significativas em um curto período, assim como outras que se beneficiaram da tecnologia. Nomes como Big Bear.ai, C3.ai, Blaize Holdings e Bullfrog Holdings sentiram o impacto.
Apesar do revés, a capacidade de inovação da IA permanece inegável. A tecnologia transformou mercados, acelerou a digitalização de diversos setores e impactou o mercado de trabalho global. No entanto, a situação atual não é inédita, assemelhando-se ao ciclo de outras tecnologias inovadoras. A euforia inicial dá lugar à consolidação, onde apenas empresas com fundamentos sólidos, produtos de valor e modelos de negócio consistentes sobrevivem.
Atualmente, prometer inovação com IA não é suficiente; é preciso demonstrar impacto real, retorno financeiro e aplicabilidade prática. Essa mudança de paradigma funciona como um filtro natural. A chave para o sucesso reside em incorporar a IA a produtos e serviços que transformam processos e impulsionam organizações. Empresas que conseguirem tangibilizar benefícios, seja em eficiência operacional, redução de custos ou aumento de receita, estarão mais bem posicionadas para prosperar.
Um exemplo é a Enter, startup brasileira que utiliza inteligência artificial para otimizar defesas jurídicas de grandes empresas. A companhia acaba de levantar R$ 200 milhões, atingindo um valuation de R$ 2 bilhões, em uma rodada de investimento liderada por fundos renomados.
Para lideranças, a lição é clara: em vez de utilizar a IA apenas como discurso de inovação, é fundamental integrá-la de maneira estratégica e responsável. Isso exige priorizar casos de uso reais, investir em equipes qualificadas, mensurar resultados e equilibrar experimentação e execução.
Em resumo, o momento não é de desacreditar a IA, mas de amadurecer a relação com ela. A tecnologia continua transformadora, mas sua força depende menos da retórica e mais da consistência. O mercado aprendeu a diferenciar o hype do valor real, e promessas vazias não sustentam relevância por muito tempo.
