Jambu: tesouro amazônico conquista mercados e pesquisadores

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O jambu, planta nativa da Amazônia, antes restrito a pratos típicos, expande seus horizontes e conquista novos mercados, impulsionado por pesquisas científicas e empreendedorismo. A Acmella oleracea, como é cientificamente conhecida, atinge cerca de 40 centímetros de altura, exibindo folhas ovais e flores amarelas que se destacam como os cobiçados “botões de jambu”.

Uma mudança de carreira levou a arquiteta Tatiana Sinimbu a se dedicar ao estudo aprofundado do jambu. Sua empresa, Jambu Sinimbu, desenvolve produtos inovadores a partir do extrato etanólico da planta, como cachaça de flor de jambu, conservas, molhos de pimenta e até um estimulante sexual concentrado. A busca por inovação levou Tatiana a ingressar no mestrado em engenharia industrial na Universidade Federal do Pará, onde aprofundou suas pesquisas e desenvolveu novos produtos derivados do jambu.

Dentre as criações de Tatiana, destaca-se o spray “Tremidão da Sinimbu”, um produto que combina o jambu e suas propriedades estimulantes. Foram necessários mais de 10 quilos de flores de jambu e três meses de testes para aperfeiçoar a fórmula concentrada, da qual basta uma única gota para produzir o efeito desejado. O sucesso do produto rendeu prêmios tanto no Brasil quanto na Alemanha.

Segundo a criadora, o extrato promove uma série de sensações estimulantes ao ser aplicado topicamente, além de retardar a ejaculação e aumentar a lubrificação natural. A ginecologista e sexóloga Érika Mendonça das Neves explica que os efeitos únicos do jambu são resultado do espilantol, composto presente na planta.

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O espilantol é responsável pela característica sensação de formigamento e leve anestesia proporcionada pelo jambu. Presente nas folhas e flores, o composto atrai tanto apreciadores da culinária regional quanto pesquisadores. Desde a década de 1950, estudos confirmam os efeitos anestésicos e analgésicos do espilantol.

Pesquisas conduzidas nos laboratórios do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, vinculado à UFPA, em Belém, corroboram os conhecimentos populares sobre o jambu. Investigações revelam que o espilantol interage com receptores nervosos, proporcionando alívio temporário da dor, melhorando a circulação e reduzindo a inflamação. Análises laboratoriais também sugerem benefícios para o sistema cardiovascular, como a prevenção de arritmias.

No Pará, produtores periurbanos cultivam jambu em pequenas áreas, juntamente com outras hortaliças, para abastecer Belém e outros centros urbanos da região. A produção, ainda em pequena escala, concentra-se no estado, onde a demanda é maior, principalmente durante o Círio de Nazaré.

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O jambu prospera em climas quentes e úmidos, característicos da Amazônia, e em solos ricos e bem drenados. A produção flutua ao longo do ano, com picos de demanda em datas comemorativas, elevando o preço do maço. Feirantes na região metropolitana de Belém relatam um consumo médio de 15 quilos por dia.

Para atender a demanda do Círio, seriam necessários 5 hectares de jambu, o que representa uma oportunidade de renda e emprego para pequenos produtores dos municípios de Santo Antônio do Tauá e Santa Izabel do Pará, que se destacam na produção da planta.

Além da culinária, o jambu ganha espaço na indústria de cosméticos, que explora suas propriedades anestésicas e seus benefícios para a pele. O mercado de cosméticos à base de jambu está em expansão, com produtos que prometem reduzir linhas de expressão e proporcionar um efeito lifting natural, atraindo consumidores com a promessa de um efeito anti-idade.

A planta também possui propriedades medicinais e nutricionais, sendo utilizada por povos indígenas e ribeirinhos como analgésico e anestésico no tratamento de diversas condições. Pesquisadores investigam seu potencial como fungicida e no combate a carrapatos, visando o desenvolvimento de novos medicamentos.

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Em 2022, o governo estadual lançou o Plano Estadual para Bioeconomia (PlanBio), com o objetivo de transformar a biodiversidade amazônica em um sistema econômico sustentável, valorizando produtos florestais como o jambu.

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