Liderança e cultura: o segredo para o sucesso na gestão fabril

A excelência na gestão fabril contemporânea transcende a mera adesão a regulamentos, métricas e procedimentos padrão. Exige uma liderança proativa, um compromisso genuíno da alta administração e a habilidade de transformar requisitos técnicos em práticas organizacionais consistentes. Estudos recentes no campo da gestão organizacional indicam que a perenidade de programas fabris, sejam eles focados em qualidade, segurança, sustentabilidade ou desempenho, depende essencialmente da atuação dos gestores e das lideranças de topo.
Como expressou Peter Drucker, pioneiro da administração moderna: “A cultura devora a estratégia no café da manhã”. Essa afirmação, embora concisa, encapsula uma verdade fundamental: nenhuma norma, manual ou programa prosperará se as lideranças não reconhecerem que, primordialmente, é crucial gerenciar pessoas.
- O Papel Estratégico da Alta Direção
A alta direção estabelece a direção, os princípios e a estrutura de apoio necessários para que os programas fabris floresçam. Normas como ISO 9001, ISO 45001, ISO 22000, FSSC 22000 e estruturas avançadas como WCM (World Class Manufacturing) e TPM (Total Productive Maintenance) são claras: o engajamento da liderança é o requisito fundamental.
1.1. Definir Prioridades e Alocar Recursos
O engajamento ativo da alta direção é crucial para a longevidade dos programas operacionais. Isso se manifesta em:
- Garantia de recursos financeiros (treinamento, manutenção, automação, infraestrutura).
- Definição de prioridades reais, evitando o abandono de programas frente a pressões de curto prazo.
- Sustentação de decisões estratégicas, mesmo quando impopulares.
1.2. Dar Exemplo e Modelar Comportamentos
A falta de comportamento exemplar por parte da liderança é um fator crítico no insucesso de programas de mudança. Em fábricas, isso se reflete em:
- Gestores que exigem checklists, mas não seguem procedimentos.
- Diretores que defendem o uso de EPIs, mas circulam sem eles.
- Supervisores que cobram análises de causa raiz, mas pressionam por produtividade imediata.
A consistência do alto escalão é a base da credibilidade. Sem ela, nenhum programa se mantém.
1.3. Criar um Ambiente de Responsabilização Saudável
Programas fabris falham não por falta de ferramentas, mas pela ausência de responsabilização clara. A alta direção deve assegurar:
- Estruturas de governança e acompanhamento.
- Clareza sobre papéis (quem aprova, quem executa, quem audita).
- Consequências proporcionais, transparentes e justas.
A ausência desses elementos transforma qualquer sistema em mera formalidade.
- O Papel dos Gestores Operacionais: Traduzir Estratégia em Prática
Se a alta direção define o horizonte, são os gestores, incluindo gerentes, supervisores, coordenadores e líderes de área, que constroem a ponte para que o trabalho aconteça no dia a dia.
2.1. Engajar Pessoas Antes de Implantar Programas
Normas e programas são executados por pessoas, não por processos. Isso exige de cada gestor a capacidade de:
- Comunicar propósito e impacto.
- Manter conversas claras, firmes e humanas.
- Explicar o “por quê” antes do “como” e do “o quê”.
Equipes engajadas demonstram maior produtividade e menor incidência de falhas operacionais.
2.2. Treinar, Acompanhar e Corrigir
Gestores não podem ser apenas cobradores de indicadores. Seu papel direto é:
- Treinar operadores nos padrões.
- Acompanhar a execução de rotina.
- Ajustar comportamentos.
- Identificar causas sistêmicas de desvios.
- Criar ciclos de melhoria contínua.
Os melhores gestores sabem que não existe programa forte com equipe fraca.
2.3. Conectar Normas ao Contexto Real da Fábrica
A gestão fabril fracassa quando os programas são vistos como “burocracia”, “trabalho extra” ou “papel para auditoria”. Cabe aos gestores traduzir normas em:
- Rotinas funcionais e aplicáveis.
- Procedimentos que façam sentido.
- Fluxos enxutos e livres de desperdícios.
Gestores que conhecem profundamente o chão de fábrica evitam a síndrome dos “processos que só funcionam no papel”.
- Por Que Programas Fabris Fracassam?
Estudos indicam que uma alta porcentagem de programas de qualidade, segurança, sustentabilidade ou produtividade não se sustenta após 18 meses. Os principais motivos são estruturais e relacionados ao comportamento das lideranças:
- 3.1. Falha de Patrocínio da Liderança: É o principal motivo de fracasso. Sem apoio real do alto escalão, programas perdem prioridade.
- 3.2. Comunicação Insuficiente ou Equivocada: Mensagens confusas, objetivos mal explicados e falta de alinhamento geram resistência.
- 3.3. Falta de Treinamento Contínuo: Treinamentos pontuais não sustentam cultura. Programas precisam de reciclagem e acompanhamento.
- 3.4. Metas Desconectadas da Realidade Operacional: Metas inatingíveis ou impostas sem participação instalam a cultura do “cumprimento fictício”.
- 3.5. Rotatividade de Liderança: Cada gestor que chega descontinua o que funcionava, destruindo a credibilidade.
- 3.6. Foco em Ferramentas, Não em Pessoas: Ignorar o fator humano impede a mudança da cultura organizacional.
- Gerir Pessoas Antes de Gerir Programas
Toda norma é um conjunto de requisitos. Todo programa é um conjunto de práticas. Mas pessoas são seres complexos, com emoções e expectativas.
Gestores eficazes entendem que:
- É impossível implementar BPF se a equipe não estiver comprometida.
- Não há qualidade sem cultura de responsabilidade.
- Não há produtividade sem propósito.
- Não há segurança sem confiança.
- Não há melhoria contínua sem diálogo e respeito.
Gerir pessoas significa:
- Ouvir antes de ordenar.
- Conduzir antes de cobrar.
- Ensinar antes de punir.
- Reconhecer antes de exigir.
- Inspirar antes de padronizar.
Empresas que colocam pessoas no centro têm programas que duram décadas.
Conclusão: Liderança que Inspira, Programas que Transformam
A gestão fabril é uma expressão da maturidade e da coragem das lideranças. Toda norma depende da capacidade da liderança de criar uma cultura viva, coerente e alinhada ao propósito.
Quando a alta direção assume o protagonismo, quando gestores operacionais se tornam educadores e quando programas são construídos com as pessoas, a fábrica torna-se um organismo vivo, inovador, estável, seguro e altamente produtivo.
O papel dos líderes é simples e profundo: ser o primeiro a acreditar, o primeiro a praticar e o último a desistir.
Fonte: www.avisite.com.br

