Lô borges: o trem azul que ecoa pelo tempo
A partida de Lô Borges deixa um vazio que ressoa como um acorde eterno, amplificando o silêncio em vez de dissipá-lo. A notícia evoca memórias de uma infância moldada por sua música, um tempo em que a curiosidade transbordava as fronteiras de um mundo aparentemente pequeno.
A descoberta de sua obra musical foi uma revelação, um portal para um universo onde o regional e o infinito se entrelaçavam. Em sua voz, a infância e a vastidão do mundo coexistiam em perfeita harmonia, unidas por acordes que transcendiam o ordinário.
Através de “Trem Azul”, desvendou-se a jornada como destino inevitável. “Paisagem na Janela” revelou que a contemplação é, em si, uma forma de movimento. E “Tudo o que Você Podia Ser” ensinou que a ousadia reside na capacidade de sonhar. As melodias de Lô Borges tocavam o mistério da existência, demonstrando que a gentileza pode ser uma arma poderosa contra o cinismo predominante no mundo.
Lô Borges personificava mais do que um músico talentoso; ele representava uma maneira singular de encarar a vida. Partindo de Belo Horizonte, sua mensagem ecoava por todo o planeta. Transformava quartos em constelações, convidando a habitá-las. Sua voz jovial e o brilho de seu violão transmitiram a mensagem de que os sonhos permanecem eternamente jovens e que a utopia pode ser tão simples quanto um refrão cativante. Ele se destacou como um dos poucos artistas capazes de transformar a sensibilidade em ética, a amizade em ideologia e a beleza em coragem.
Apesar de sua partida, ele deixou um legado de movimento e inspiração. O silêncio agora pulsa com a melodia de uma canção distante. As lembranças persistem nas curvas do tempo, como uma janela lateral que ilumina as manhãs. Lô Borges retornou à fonte de sua música, um lugar onde a vida e o sonho se fundem em uma única melodia. E é nessa harmonia invisível que sua essência continua a existir.
Em retrospecto, emerge a imagem de um jovem em Itapaci, absorto no céu e na emissão de um pequeno rádio. Lô, talvez, tenha sido o primeiro a comunicar, sem palavras, que o universo pode ser encontrado dentro de uma canção. Ele mostrou que a vida é uma composição de notas únicas, interligadas como se a música fosse uma forma de relembrar a própria identidade.
O país se encontra em um silêncio mais profundo. No entanto, ecoa um trem azul que atravessa o tempo. É Lô, com um sorriso sereno, como alguém que sabe que a música é imortal. Emerge a gratidão por ter vivido sob sua melodia, por ter aprendido que o interior também é um cosmos, que o particular é universal e que a vida é feita de sons que a morte não pode silenciar.
Adeus, Lô. Sua essência não se extinguiu, apenas se transformou em uma nova harmonia.

