Na frança, ascensão da frança insubmissa desafia macronismo e extrema direita
Nos últimos nove anos, desde sua fundação em 2016, o partido A França Insubmissa (LFI) emergiu como a principal força de esquerda na França. Com 71 parlamentares, supera em representação o Partido Socialista e o Partido Comunista, tradicionais na esquerda francesa. Jean-Luc Mélenchon, figura central da LFI, concorreu à presidência três vezes, alcançando 21,9% dos votos em 2022 e ficando em terceiro lugar, logo após Marine Le Pen, do Reunião Nacional, e Emmanuel Macron. O partido se define como socialista democrático e ecossocialista.
Líderes da LFI, incluindo Nadège Abomangoli, Aurélie Trouvé, Arnaud Le Gall, Aurélien Taché e Aurélien Saintoul, avaliam que o macronismo enfrenta seu declínio, demonstrado pela crescente divisão interna e alianças com a extrema direita. A Reunião Nacional, ao vencer as eleições para o Parlamento Europeu, evidenciou a abertura de Macron a um possível acordo, apesar de não ter se concretizado.
A LFI aponta que o macronismo assimilou ideologias e discursos da extrema direita. O partido Republicanos, tradicionalmente de direita, está cada vez mais alinhado com a extrema direita, com seu novo chefe, Bruno Retailleau, agora ministro do interior, adotando slogans associados a esse espectro político. A islamofobia, segundo a LFI, serve como uma “cola ideológica” para unir as forças de direita no país.
Jean-Luc Mélenchon observa uma intensa mobilização social contra as políticas neoliberais, criando um ambiente “pré-revolucionário”. Ele analisa esse cenário como parte de um fenômeno global de “revoluções cidadãs”. A onda de protestos dos coletes amarelos, inicialmente não apoiada pela esquerda tradicional, sinalizou o surgimento de um novo conflito: a oligarquia contra o povo.
Os protestos de 2005 e 2023, embora distintos em sua natureza, revelam tensões subjacentes na sociedade francesa. Os eventos de 2023, com a participação de jovens, expressaram revolta contra a violência policial, especialmente contra jovens árabes. A polarização se intensificou com a difusão de reações de ódio nas mídias sociais.
A LFI enfatiza que os protestos de 2023 estão intrinsecamente ligados a questões econômicas, resultado das políticas neoliberais. Para o partido, aqueles que sofrem racismo também são vítimas do capitalismo, explorados pelo sistema. A luta contra o racismo não é apenas uma questão moral, mas também econômica, já que a narrativa de divisão de recursos entre a população nativa e os migrantes fortalece a extrema direita. A LFI critica a normalização dessa divisão pelos macronistas, citando o exemplo de Mayotte, onde os direitos dos migrantes estão sendo atacados.
A LFI busca construir um “novo antirracismo”, desconfiando de abordagens passadas utilizadas como armas políticas. O partido alerta para novas formas de racismo, como a alegação de que pessoas não brancas estão se infiltrando no governo por meio de vantagens especiais.
A LFI se posiciona como a única força de esquerda viável na França. O Partido Socialista (PS) enfrenta divisões internas e não demonstra a mesma combatividade contra o racismo. O PS prioriza a conquista de cadeiras parlamentares e hesita em aliar-se à LFI, temendo perder eleitores que apoiam Macron. Essa estratégia, segundo a LFI, reflete o desejo de manter o povo sob a autoridade da pequena burguesia, por medo da extrema direita.
Em preparação para as eleições presidenciais de 2027, a LFI visualiza um cenário favorável à esquerda, devido à divisão dos macronistas e da direita. Com Macron impedido de concorrer, o macronismo se revela um fenômeno único. A direita e a extrema direita também estão fragmentadas, com Marine Le Pen impossibilitada de concorrer.
A LFI está aberta a conversas com os socialistas, mas critica sua busca por votos entre os eleitores de Macron. Os Verdes, Socialistas e Comunistas priorizam evitar a LFI em suas alianças eleitorais, o que dificulta a formação de uma frente unida.
A LFI se prepara para apresentar um candidato à presidência em 2027, com base no programa “O Futuro em Comum”, que reúne 831 medidas para construir uma Nova França. O programa, elaborado a partir das necessidades da sociedade, propõe romper com a ordem capitalista, proteger os bens comuns e garantir os direitos das espécies. A “regra verde” visa limitar a exploração da natureza, e o planejamento ecológico substituirá a lógica de mercado. A LFI também propõe a Sexta República, com referendos revogatórios e de iniciativa cidadã, restaurando a aposentadoria aos 60 anos.
Mélenchon defende o “coletivismo”, que visa abordar tanto a questão social quanto o interesse humano geral e os direitos dos seres vivos. Ele acredita que um novo mundo está surgindo, com um povo urbano organizado em redes, e que o coletivismo é uma necessidade diante das mudanças climáticas e da lei do mais forte. O beco sem saída do sistema capitalista, segundo ele, representa uma oportunidade para paralisá-lo e construir um futuro melhor.

