Nova etapa do delivery: disputas judiciais e inovações agitam o mercado

A acirrada competição no mercado de delivery brasileiro ganha novos contornos. Seis meses após o anúncio de investimentos bilionários por Keeta, Rappi e 99, o cenário se movimenta com inovações, disputas legais e expansão de capital.
Apesar da intensa concorrência, analistas apontam para a dificuldade de superar o iFood, líder no setor. Para o economista João Branco, professor da ESPM, o serviço exige grande escala e presença consolidada. No entanto, ele prevê que as recentes movimentações podem gerar impactos no curto prazo, como uma possível queda de preços.
O iFood, em resposta à crescente concorrência, anunciou uma parceria com a Uber, visando a integração dos aplicativos ainda este ano, permitindo a solicitação de corridas e pedidos de comida em ambas as plataformas. A empresa também apresentou novidades tecnológicas, incluindo inteligência artificial para auxiliar na escolha de pedidos, e a expansão do serviço de entregas por drones em Sergipe, com planos de levá-lo para outras regiões. Paralelamente, o iFood investe em atrair clientes para restaurantes físicos, movimentando R$ 1 bilhão nos últimos 12 meses através de sua própria máquina de pagamentos.
A Keeta, com lançamento previsto para o final de outubro em Santos e São Vicente, no litoral paulista, promete chegar à capital paulista até 2025. A empresa informa ter 700 restaurantes cadastrados e planeja ajustes em sua tecnologia, incluindo um “capacete inteligente” com funcionalidades ainda não detalhadas.
O Rappi, presente em mais de 100 cidades, anunciou o fim de taxas para restaurantes e uma campanha de marketing com preços mais competitivos, que ainda não se concretizou. A empresa afirma que segue com a política de taxa zero para estabelecimentos entrantes e investe em promoções diretamente na plataforma. Além do delivery de comida, o Rappi expande seu serviço de entregas rápidas, o Rappi Turbo, e firmou um acordo com a Amazon, que pode adquirir parte de suas ações. Atualmente, o aplicativo possui 30 mil restaurantes cadastrados no país.
O 99Food, do grupo chinês Didi, aproveita a presença do aplicativo de mobilidade 99 no país. Os pedidos de delivery são realizados na mesma plataforma utilizada para solicitar carros. Atualmente, o serviço opera em Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro, buscando alcançar 100 cidades até junho de 2026. A empresa distribui cupons de desconto e zerou taxas para restaurantes que praticam os mesmos preços no delivery e no salão, buscando atrair clientes.
A competição também se estende para o âmbito jurídico. A Keeta moveu uma ação no Cade contra a 99Food por contratos de exclusividade e semiexclusividade com restaurantes, ação na qual o Rappi solicitou ingresso como parte interessada. A Abrasel apoia a Keeta, defendendo que a competição deve ocorrer por meio de taxas competitivas, melhores serviços e inovação. Em contrapartida, a 99Food acusa a Keeta de violação de marca, alegando o uso das mesmas cores (amarelo e preto). A Abrasel também protocolou uma representação no Cade contra o iFood, alegando práticas anticompetitivas.
No que tange aos investimentos, o iFood lidera com R$ 17 bilhões até 2026, visando alcançar 80 milhões de clientes até 2028. A Keeta anunciou R$ 5,6 bilhões para o lançamento do aplicativo, enquanto a 99Food dobrou seu investimento inicial para R$ 2 bilhões. O Rappi investe R$ 1,4 bilhão.
Fonte: istoedinheiro.com.br