O que explica o tombo da minerva? as dúvidas no capital de giro

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Após apresentar um terceiro trimestre com resultados aparentemente robustos, incluindo uma geração de caixa de R$ 2,5 bilhões, a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, surpreendeu o mercado com uma forte queda em suas ações.

Os papéis da companhia despencaram 13%, registrando a maior baixa do Ibovespa. Embora parte desse movimento possa ser atribuída à realização de lucros, dado o aumento de 25% no valor das ações ao longo do ano, as dúvidas sobre o capital de giro da empresa se destacam como um fator crucial para o desempenho.

A questão central que paira sobre a Minerva Foods é a sustentabilidade de seu modelo de financiamento. Analistas questionam a capacidade da empresa de continuar a financiar suas operações com clientes e fornecedores por um período superior a dois meses de vendas. Caso a resposta seja negativa, a Minerva poderá enfrentar dificuldades para manter os níveis de antecipação de clientes e prazos de pagamento alongados com fornecedores, que foram reportados recentemente.

Essa situação também pode indicar que a empresa opera com um endividamento estrutural maior do que o divulgado, refletido em despesas com juros mais elevadas do que o esperado para o nível de dívida reportado.

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Em 30 de setembro, a alavancagem da Minerva atingiu 2,5 vezes, com uma dívida financeira de R$ 11,3 bilhões. As despesas financeiras, excluindo o hedge cambial, totalizaram R$ 3 bilhões em doze meses, sugerindo um custo de dívida superior ao histórico da empresa.

Essas linhas de financiamento obtidas de clientes, sejam tradings de carne ou de energia, podem estar revelando seus custos reais. Embora contabilmente não figurem no endividamento financeiro por serem transações comerciais, isso não significa que não impliquem custos para a empresa.

A preocupação com a recorrência da geração de caixa incremental também persiste. Em 30 de setembro, a linha de adiantamento de clientes da Minerva alcançou R$ 5,8 bilhões, um aumento de R$ 670 milhões em apenas três meses. Nesse patamar, a empresa consegue adiantar o equivalente a 9% da receita anual, acima da média histórica de 6%.

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Durante a teleconferência com analistas, a empresa atribuiu o incremento nos adiantamentos de clientes ao crescimento das exportações para a China, onde os frigoríficos costumam receber entre 30% e 40% dos contratos de carne bovina antes do embarque. Adicionalmente, a Minerva reportou um adiantamento de R$ 1,3 bilhão de clientes da trading de energia, um montante considerável.

No mesmo período, a Minerva também aumentou o financiamento com fornecedores. A linha de convênios, que representa o risco sacado, cresceu R$ 500 milhões em três meses, totalizando R$ 4 bilhões em 30 de setembro, o que representa 7,8% dos custos de produção da Minerva, acima da média histórica de 6,5%.

Com essas posições já elevadas, a margem para grandes melhorias é limitada. A expectativa é que a empresa consuma mais capital de giro nos próximos meses. A própria Minerva estima um consumo de caixa de R$ 500 milhões neste quarto trimestre, o que ainda deixaria a geração de caixa do ano positiva em R$ 1,5 bilhão.

O desafio da Minerva reside em sustentar o desempenho com linhas de capital de giro já bastante tensionadas, mesmo diante de um cenário favorável para as exportações de carne bovina da América do Sul.

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