ONU expõe drama da fome: 673 milhões dormem sem comer em 2025
ONU alerta que 673 milhões de pessoas passam fome, enquanto cortes no financiamento reduzem ajuda humanitária e ampliam crise global.

O Dia Mundial da Alimentação 2025 reacendeu um alerta global sobre o avanço da fome, um problema que segue devastando comunidades mesmo com a produção mundial de alimentos sendo suficiente para todos. Em pronunciamento nesta semana, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, revelou que 673 milhões de pessoas ainda dormem sem comer todos os dias, destacando que a crise alimentar atual é uma das mais graves das últimas décadas.
O evento marcou também o 80º aniversário da FAO, com o tema “De Mãos Dadas por Alimentos Melhores e um Futuro Melhor”, reforçando o apelo por união e cooperação entre países diante desse cenário alarmante.
Durante seu discurso, Guterres afirmou que o mundo já dispõe de recursos, tecnologia e conhecimento suficientes para erradicar a fome, mas falta o que chamou de “vontade e solidariedade global”. Ele também destacou problemas que agravam o quadro, como a obesidade crescente, a desigualdade alimentar e o uso da fome como arma de guerra, situação que já ocorre em alguns países afetados por conflitos.
A crise humanitária se aprofunda com os cortes no orçamento do Programa Mundial de Alimentos (PMA), que enfrenta uma redução de cerca de 40% no financiamento em 2025 — caindo de US$ 10 bilhões para apenas US$ 6,4 bilhões. Essa diminuição ameaça diretamente milhões de pessoas em regiões já vulneráveis como Afeganistão, República Democrática do Congo, Haiti, Somália, Sudão do Sul e Sudão, onde a escassez de recursos está forçando cortes drásticos na ajuda alimentar.
No Sudão, metade da população — cerca de 25 milhões de pessoas — enfrenta fome aguda, com regiões já declaradas em situação de calamidade alimentar. Mesmo com capacidade para atender o dobro, o PMA só consegue alcançar cerca de 4 milhões de pessoas por mês. Em Gaza, a situação também é crítica: após um cessar-fogo recente, o programa tenta expandir o atendimento para 1,6 milhão de pessoas em 145 pontos de distribuição, mas o número de famílias em risco de desnutrição grave continua crescendo.
O Índice Global da Fome 2025 mostrou que o combate à fome estagnou nos últimos anos. O relatório indica que a pontuação mundial pouco melhorou, passando de 19,0 em 2016 para 18,3 em 2025, o que demonstra que o ritmo atual de progresso é insuficiente. Mantida essa tendência, o mundo só atingirá níveis baixos de fome por volta de 2160, um cenário considerado inaceitável por especialistas e líderes globais.
Mesmo diante do panorama sombrio, alguns países apresentaram compromissos renovados durante o evento. A Índia reforçou a importância do seu sistema de segurança alimentar, que atende mais de 800 milhões de pessoas. O Paquistão pediu união internacional para alcançar o objetivo de “Fome Zero”. Já a China destacou sua capacidade de alimentar 1,4 bilhão de cidadãos com menos de 9% das terras agrícolas globais, enquanto os Emirados Árabes Unidos anunciaram novos investimentos em projetos sustentáveis para fortalecer a segurança alimentar global.
O apelo da ONU é claro: a fome não é resultado da falta de alimentos, mas da ausência de equidade, paz e compromisso coletivo. Guterres concluiu seu discurso pedindo que “nenhuma criança vá dormir com fome” e que os países redobrem seus esforços para garantir um futuro mais justo e alimentar para todos.